29.10.10
Chef Massimo Bottura, da Osteria Francescana: surpresa de David Chang e René Redzepi
Chefs famosos, rankings, blablabla. O fato é que chef também é gente. Diverte-se. Viaja. Come. Passa tempo com amigos. Querem prova? David Chang (do império Momofuku, em Nova York), René Redzepi do Noma e Inaki Aizpitarte do Le Chateaubriand em Paris e mais uns amigos foodies resolveram pegar aviões e "cair" de surpresa na Osteria Francescana, do Massimo Bottura. O organizador-mór? Andrea Petrini, o homem por trás do Cook it Raw. Reservaram sob pseudônimo, chegaram e puseram guardanapos na cabeça (o de iPhone na mão é o René Redzepi). Farra....
René Redzepi, o chef do Noma, lança seu livro dia 12 em Londres: bilhetes à venda!
Querem conhecer pessoalmente o chef René Redzepi, do Noma, restaurante votado número 1 no The World's 50 Best? Ele vai estar em Londres dia 12 de novembro pra lançar o livro dele, e a Phaidon, sua editora, já está vendendo as entradas no site (sim, o cara chegou num nível em que suas noites de autógrafos exigem venda de bilhetes e tudo mais). Tentei comprar um ingresso mas tá difícil, então não posso dizer o preço, mas sei que ele vai subir ao palco e dar uma palestra antes de encarar a fila de gente com livro na mão e querendo autógrafo.
Saiu agora há pouco na revista Wish minha matéria sobre o livro Noma: Time and Place in Modern Cuisine, que só pude escrever porque dei a sorte de descolar um exemplar antes de todo mundo. :)
E foi sorte mesmo: eu li o exemplar do próprio René, emprestado por ele, antes mesmo da primeira edição sair da gráfica! (Eu contei em detalhes como foi que isso aconteceu, e como eu conheci o chef, neste post).
Garoto de fibra, tiro meu chapéu para ele. É aquela velha história: nada acontece por acaso. Para quem tiver paciência/interesse, aqui neste link dá para ler o texto que saiu na Wish.
28.10.10
Os melhores restaurantes e hotéis do Brasil, segundo o guia Quatro Rodas
Foto: Capa do Guia Brasil 2011 e detalhe do Theatro Municipal do Rio de Janeiro - Crédito: divulgação/Fernando Lemos |
O GUIA QUATRO RODAS lançou semana passada seu Guia Brasil 2011. Não há outro guia no país que faça tamanho trabalho de pesquisa e classificação, cruzando o país de ponta a ponta buscando analisar cada restaurante, hotel e atração turística. Há nada menos do que 12 700 endereços no guia, todos devidamente testados e aprovados.
Pra mim, a parte mais importante, claro, é a classificação dos restaurantes estrelados. E agora que o guia já saiu eu posso revelar: fiz parte da criteriosa equipe de inspetores do Guia, cuidando, especificamene, do capítulo dos restaurantes contemporâneos de São Paulo (em que o D.O.M. se insere). Adoro fazer esse trabalho de campo, que me permite visitar vários restaurantes paulistanos anonimamente (e com a Editora Abril pagando a conta! :) ), e o longo e elaborado formulário que eu tenho que preencher depois de cada almoço ou jantar (e entregar ao Ricardo Castanho, editor do guia) acaba se tornando, para mim, uma ótima forma de me lembrar, mais tarde, de cada detalhezinho de cada prato.
Entre janeiro e fevereiro, fui a TODOS os contemporâneos de São Paulo, acreditam? Haja apetite! Comi muito bem, mas também comi muito mal. Meus favoritos foram D.O.M. e Dui. Em contrapartida, de-tes-tei Marakuthai e Di Bistrot. É o que sempre digo: na real, testar restaurantes não é a maravilha que imaginam, há dias bons e dias péssimos, como tudo na vida.
Vocês sabem: no Quatro Rodas, como no Michelin, a cotação máxima é três estrelas. Vamos então aos resultados:
Guia Quatro Rodas Brasil 2011
OS RESTAURANTES 3 ESTRELAS
Antiquarius (Rio de Janeiro, RJ)
D.O.M. (São Paulo, SP)
Fasano (São Paulo, SP)
Le Pré Catelan (Rio de Janeiro, RJ)
Locanda della Mimosa (Petrópolis, RJ)
Olympe (Rio de Janeiro, RJ)
ATRAÇÕES
Novidade do Ano: Instituto Inhotim (Brumadinho, MG)
Atração do Ano: Theatro Municipal (Rio de Janeiro, RJ)
HOTÉIS
Novidade do Ano: Kenoa Exclusive Beach SPA& Resort (Barra de São Miguel, AL)
Pousada do Ano: Pousada Bendito Seja (Praia do Espelho, BA)
Resort do Ano: Breezes Búzios Resort & SPA (Búzios, RJ)
Hotel de Luxo do Ano: Lake Villas Charm (Amparo, SP)
Hotel para Eventos do Ano: Sheraton São Paulo WTC (São Paulo, SP)
Spa em Hotel do Ano: 7 Voltas Spa Resort (Itatiba, São Paulo)
Hotel Sustentável do Ano: Fazenda Campo dos Sonhos (Socorro, SP)
RESTAURANTES
Chef do Ano: Simon Lau (Aquavit, Brasília, DF)
Chef Revelação: Thiago Castanho (Remanso do Peixe, Belém, PA)
Restaurateur do Ano: Paulo Geremia (Casa di Paolo, Bento Gonçalves, RS)
Novidade do Ano: Tre Bicchieri (São Paulo, SP)
A Melhor Carta de Vinhos: Durski (Curitiba, PR)
Para saber mais: premioguiabrasil.com.br
25.10.10
Megajantar hoje no Dalva e Dito, em São Paulo, em prol da preservação do planeta
Já contei pra vocês que esta semana está acontecendo um evento super importante de gastronomia em São Paulo, a Semana MesaSP. Mas queria contar, mais especificamente, do banquete que rola hoje mesmo lá no Dalva e Dito, o restaurante "brasileirinho" do Alex Atala. Agora já é tarde para querer reservar, mas em todo caso, achei legal mostrar o lineup de chefs, que não é café pequeno não.
O jantar tem como tema a preservação do planeta, e será casado com uma ótima iniciativa da revista Prazeres da Mesa: um abaixo-assinado em prol de vários princípios que, segundo eles, deveriam ser seguidos por todo mundo.
O Georges Schnyder, publisher da Prazeres da Mesa, me explicou o seguinte: "A carta foi pensada e redigida com a colaboração preciosa de professores, líderanças ambientalistas, críticos e jornalistas de gastronomia. É um documento aberto pertencente à sociedade que poderá a qualquer momento ser emendado, editado e melhorado por qualquer cidadão a partir do momento em que esse cidadão se comprometa com os Princípios nele já contidos." E o mais importante: quanto mais assinaturas, melhor! Quem quiser assinar embaixo pode ler aqui o manifesto na íntegra, e me mandar um email no boavidablog arroba gmail ponto com que eu incluo seu nome na lista.
Link para a Carta de São Paulo em inglês.
Link para a Carta de São Paulo em castellano.
Jantar da Terra
Coquetel (os amuse bouches):
- Bel Coelho- David Hertz
- Helena Rizzo
- José Barattino
- Julien Mercier
- Mara Salles
- Raphael Despirite
- Rodrigo Oliveira
- Tsuyoshi Murakami
- Viko Tangoda
O Jantar...
Gastón Acurio, Gastón y Astrid, PeruDuo de ceviches de luxo – Clássico de corvina com leite de tigre de primeira prensa e de ouriços e vieiras contemporáneas com creme de ouriço
Marcello Tully, 1 estrela Michelin, Kinloch Lodge, Escócia
Lagosta a Thermidor com cachaça
Atul Kochhar, 1 estrela Michelin, Benares, Inglaterra
Tamboril com molho branco a base de leite de coco e molho verde a base de coentro, “dumplings” de peixe e anéis de lula com maionese de tinta de lula
Heinz Beck, 3 estrelas Michelin, La Pergola, Itália
Fagotelli “La Pergola” recheado com queijo pecorino e molho de caldo de vitela, guanciale e abobrinha italiana
Shane Osborn, 2 estrelas Michelin, Pied à Terre, Inglaterra
Tartare de atum e ostras com chutney de couve, picles de chuchu e geléia de nori
Tetsuya Wakuda, Tetsuya's, Austrália
Rabada Braseada e Vegetais
Yoshihiro Narisawa, 1 estrela Michelin, Les Créations de Narisawa, Japão
Sumi Beef (Japanese Bincho-tan)
Marcus Wareing, 2 estrelas Michelin, Marcus Wareing at the Berkeley, Inglaterra
Bolo de damasco com gelatina de Amaretto e sorbet de damasco
Ben Roche, Moto, Chicago
“Campfire” S´More bomb – Trufa de chocolate
Alex Atala
Piracuru com ratatouille do sertão
Nuno Mendes, Viajante, Inglaterra
Cachaço de porco ibérico e lagostim. Umami: do mar à montanha, memórias de San Sebastian
Esse banquete segue-se aos dois anteriores organizados pela Prazeres da Mesa. Em 2008, intitulado o “Jantar do Século”, o evento foi capitaneado pelo chef Ferran Adrià, mais uma comitiva de chefs espanhóis, totalizando 23 estrelas Michelin. Em 2009 fizeram o “Jantar das Gerações", com chefs franceses que somavam 20 estrelas Michelin, liderado por Alain Ducasse. Cada chef francês teve um padrinho, outro chef francês, radicado no Brasil.
24.10.10
Tapas24, em Barcelona: chef Carles Abellan serve tapas nota 10
Quantos lugarzinhos servindo tapas será que há em Barcelona? 200? 300? Nem tento descobrir… O fato é que não se pode assumir que se uma cidade é famosa por alguma coisa – tapas, no caso – elas serão sempre boas. Seria como esperar que todo chope de boteco carioca fosse bem tirado, ou que todo pastel de feira paulistano fosse entregue ao cliente quentinho e bem recheado.
O que fazer, então, quando se chega a Barcelona com poucos dias e muita fome? Como não errar na escolha, e provar tapas bem feitas? No meu caso, resolvi apostar no chef por trás das tapas.
Mais especificamente, Carles Abellan, outro famoso ex-El Bulli que partiu para carreira solo e se deu bem.
Mas esqueçam a parte chef-que-trabalhou-no-famoso-restaurante-de-comidas-estranhas (ele foi chef no lendário restaurante de 1985 a 91, para ser exata). No Tapas24, seu barzinho de tapas, não há nenhum vestígio de cozinha de vanguarda, felizmente. Só tapas à moda antiga. E das boas!
Pra começar (e amaciar a espera), chopinho. E na sequência, um pouquinho disso aqui:
Sim, sardinhas em escabeche. Ah, sim, e também umas anchovas do Cantábrico ma-ra-vi-lho-sas.
Uma das coisas que costumo dizer e que surpreendem as pessoas é que na Espanha não tem essa de torcer o nariz para sardinha ou anchova ou peixes enlatados ou em conserva: muito pelo contrário!
Acho que eles são os maiores mestres em coisinhas do mar em conserva, seja em vidro, em lata, em azeite, em molho atomatado, pouco importa.
Mas nem só de peixinhos se faz um jantar, então logo seguimos com patatas bravas, uma larica ligeiramente ogra que eu adoro. Basicamente, batata frita com molho picante.
Aliás, o mesmo molho picante coroa as “bombas”, umas bolotas fritas deliciosas que são minhas tapas favoritas. Tanto que nem deu tempo de tirar foto! Ah, e repeti o erro com essa outra tapita: só fui clicar quando metade das lulinhas já tinha sido devorada…. Não reparem….
E o croquete, meu Deus do céu, o que era aquilo?! Não sei se foi o cansaço, ou o chopinho de barriga vazia, mas devorei absolutamente tudo, inclusive essa carninha com molho chimichurri: bela “importação” dos nossos vizihos portenhos…
Ah, sim: e não dá pra ir embora sem provar essa sobremesa: um creme bem grosso de chocolate, quase um pudim, salpicado com cristais de sal, e mais um pouquinho de ótimo azeite e torradinhas superfinas. NHAM.
Quem disse que sobremesa era só pra moças?
Tapas24: Rua Diputació, 24, 269. Barcelona, tel. (34-93) 488-0977. Não fazem reserva, sugiro ir às oito em ponto para evitar a fila…
Hotel Mandarin Oriental em Barcelona: arquitetura incrível e restaurante by Carme Ruscalleda
O Riq Freire, o grande expert em viagens, é quem sempre diz que se o orçamento for limitado o negócio é dar uma economizada no começo da viagem para depois encerrar em grande estilo.
Pois segui à risca o conselho do mestre.
Fui a Barcelona e fiquei hospedada no charmoso sobrado histórico da minha amiga Marina, e depois, na última noite, PÁ! Dei um megasuper upgrade me hospedando no lindíssimo Mandarin Oriental.
Eu tinha que ficar lá, pelo menos uma noite: logo que vi as fotos de divulgação do novo hotel, fiquei encantada. Vejam que show:
Ocupando a antiga sede de um banco, fica em pleno Passeig de Gràcia, pertinho da magnífica La Pedrera, de Gaudí.
Os arquitetos são espanhóis – Carles Ferrater e Juan Trias de Bes – e souberam criar uma obra-prima, combinando originalidade, audácia e beleza (é fácil, quando se sabe!). Alguns elementos do antigo banco foram mantidos, como a parede de cofres que enfeita o bar.
Geralmente, os Mandarin Orientals são…. orientais. Têm elementos asiáticos no décor. Mas não este.
Até o spa – o forte dessa rede – parece diferente, meio escandinavo em sua economia visual.
E um elemento muito importante do hotel e, que eu saiba, ainda pouco falado, é o restaurante tocado pela grande Carme Ruscalleda.
Pra quem não sabe, ela é simplesmente a única mulher a fazer parte do seleto time de sete espanhóis cujos restaurantes têm 3 estrelas no Guia Michelin:
Em San Sebastián e arredores:
Akelare, Martín Berasategui e Arzak
Na Catalunha:
El Bulli (Rosas), Can Fabes (Sant Celoni), El Celler de Can Roca (Girona) e o Sant Pau de Carme, em Sant Pol de Mar, logo ao norte de Barcelona.
A chef escalou seu filho Raul Balam para cuidar da cozinha no dia-a-dia, já que ela tem dois outros restaurantes onde precisa estar presente.
Esse aqui é o outro restaurante do hotel, onde servem um SUPER café da manhã:
A ida à Espanha foi maravilhosa mas também puxadíssima: eu tinha que experimentar restaurantes todo santo dia, no almoço e no jantar. Pode parecer fácil mas não é. O corpo, a certa altura, protesta. Isso sem falar nas poucas horas de sono….
Enfim, eu estava exausta, então quando entrei no meu quarto, meio escurinho e simplesmente delicioso, eu pensei: aaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh……
Fui direto ao banheiro e preparei meu banho de espuma:
aaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Vesti meu robe e literalmente pulei pra dentro da cama:
Aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh! Agora sim!
De-lí-cia!
Só fui reparar nos detalhes do quarto na manhã seguinte. E que detalhes! Tinha uma caixa de couro com todos os plugues possíveis e imagináveis:
E revistas novinhas em folha. E uma deliciosa poltrona de leitura. E uma pia gigaaaante no banheiro, com mil creminhos e coisas, balança digital, secador ultrapotente.
Basicamente, o hotel é tão lindo que a gente percebe, ficando lá, que tem muita gente que entra no lobby só pra olhar, mesmo….
Resumindo: Riq tinha razão. Nada como um banho de luxo pra fechar uma viagem com chave de ouro!
Site oficial de Carme Ruscalleda.
Site do Mandarin Oriental em Barcelona.
Chef Inaki Aizpitarte e os melhores restaurantes bistronomiques de Paris
Faz tempo, infelizmente, que não passo uma temporada em Paris, por isso não sou grande expert em bistronomiques (onda relativamente recente), mas pelo pouco que sei posso dizer o seguinte: os bistrots gastronomiques continuam super em alta.
Pra quem pegou o bonde andando, a bistronomia é tendência que já pegou força há tempos em Paris e Barcelona, principalmente, e ganhou embalo durante a última recessão.
O princípio é o seguinte: chef de alto pedigree, com passagens por restaurantes gastronômicos, sai e abre negócio próprio privilegiando um ambiente despojado e menu de pratos simples mas feitos com uma pegada de haute cuisine.
Técnicas e capricho típicos de haute cuisine, menu, vibe e preços de bar de tapas = restaurante bistronômico.
O termo foi cunhado em 2003 pelo crítico gastronômico Sébastien Demorand: "procurávamos uma expressão para descrever um restaurante que aliava a convivialidade e a descontração de um bistrô e o lado "grande restaurante" da cozinha".
Um bistronomique, em essência, serve alta gastronomia num ambiente simples e descontraído. Comida de primeiro nível, preços lá embaixo (jantar de três serviços entre 32 e 45 euros, sem bebidas). Geralmente, os bistronomiques são pequenos bistrôs fundados por chefs que passaram por grandes restaurantes e que, na hora de abrirem o próprio negócio, não tinham nem grana nem disposição pra fazer um lugar grande, chique ou caro.
Quem ganha com essa dos bistronomiques? Eu e vocês, claro.
Já contei aqui que em setembro eu passei quatro dias no mato com um bando de chefs, na Lapônia. Pois estava lá o Iñaki Aizpitarte, um basco crescido e criado em Paris, super charmoso e divertido. Ele é dono, justamente, de um ótimo bistronomique chamado Le Chateaubriand.
Chef Iñaki Aizpitarte no Cook it Raw, evento de chefs na Lapônia |
Chefs Iñaki Aizpitarte (à esq.) e Petter Nilsson (do La Gazzetta, em Paris) |
Aproveitando que estamos nesse tema, achei que a lista a seguir poderia ser útil....
Os melhores "bistronomiques" de Paris:
Rue Dupin, 11, Sexto arrondissement, tel. 33 1 42 22 64 56
Um dos pioneiros da bistronomie, esse minúsculo bistrozinho tem grandes ambições culinárias. No menu, pratos como crocante de pé de porco com queijo de cabra fresco e alface frisée, e ris (glândula do timo) de cordeiro com fondue de espinafre e molho de lagostins.
Le Chateaubriand, chef Iñaki Aizpitarte
Av. Parmentier, 129, 11o arrondissement, tel. 33 1 43 57 45 95
O chef basco é dos bistronômicos mais audazes e usa e abusa de desconstruções, espumas e molhos inesperados. O serviço tem fama de ser meio rude, a não ser com habitués, mas o brilho do chef compensa a falha.
Spring, chef Daniel Rose
Jantar a 39 euros
Rue de la Tour d’Auvergne, 28, Nono arrondissement, tel. 33 1 45 96 05 72
O chef é americano, de Chicago, mas formou-se na França. O lugar é minúsculo e disputadíssimo. E a cozinha, de autor, pode combinar, por exemplo, escargots, foie gras e beterrabas cruas no mesmo prato.
La Régalade, chef Bruno Doucet
Avenida Jean Moulin, 49, 14o arrondissement, tel. 33 1 45 45 68 58
Jantar a 32 euros
O bistrô foi fundado por Yves Camdeborde, o pai da bistronomia em Paris, em 92. Ele passou por grandes cozinhas – culminando na do Le Crillon, sob a batuta do mentor Christian Constant, e ao abrir o Régalade lançou tendência ao servir um menu a preços ultra acessíveis e com serviço super descontraído. A coisa pegou, forte, e seus amigos chefs resolveram copiar a fórmula. Depois de 12 anos de sucesso ininterrupto, resolveu vender e partir pra outra. Quem tomou as rédeas foi Bruno Doucet (ex-Pierre Gagnaire e Apicius), que prudentemente mateve várias tradições do Régalade: o menu mudado semanalmente, a 32 euros, a terrine caseira servida para quem espera mesa, etc. O prato mais famoso é o soufflé ao Grand Marnier.
Le Comptoir, chef Yves Camdeborde
Le Comptoir, 9 Carrefour de l’Odéon, 6th Arr., Paris; 011-33-1-43-29-12-05
O mais cheio e badalado dos bistronômicos, foi aberto pelo chef Yves Camdeborde depois que ele vendeu o La Régalade, e fica num hotelzinho chamado Relais St. Germain, dele também. No começo da refeição, trazem à mesa um pão inteiro sobre tábua de madeira. Oferecem queijos afinados pela maison Boursault, com acompanhamentos: mel, geléia de pimentão e de blackberry, etc. No almoço e no jantar dos fins de semana, está mais pra brasserie. Mas nos jantares durante a semana vira um mini restaurante gastronômico, servindo menus degustação de 5 serviços a 32 euros. Imprenscindível reservar com MESES de antecedência!
Chez L’Ami Jean
Rue Malar, 7, tel. 33 1 47 -5 86 89
Jantar a 34 euros
Ruidoso, com garçons pouco pacientes e menu às vezes difícil de decifrar. Mas a comida maravilhosa compensa qualquer chateação. Carne de vaca desfiada com creme de cenoura, gazpacho com ravióli, bochechas de porco com penne, etc.
E mais:
Onde comer bem e barato em Paris, por Riq Freire no Viaje na Viagem
Restaurantes de Nova York: dicas para o Benny
O chef Benny Novak está indo logo logo pra Nova York e me pediu umas dicas. Por coincidência, eu tinha acabado de ler uma crítica super elogiosa, na New Yorker, do novo Hecho en Dumbo que me deixou com água na boca. Um restaurante mexicano sacado, em plena Bowery. Benny, veja no final do post a crítica na íntegra.
Além desse, e correndo o risco de chover no molhado, eu recomendaria o seguinte:
Para um ótimo hambúrguer: The Standard Grill, no hotel Standard, Meatpacking District, ou o DBGB do Daniel Boulud (DBGB: Rua Bowery, 299, tel. (212) 933-5300)
Para uma noite especial: Del Posto, o italiano chique do Mario Batali
Para poder contar pros amigos que foi à última novidade: Lincoln, do Jonathan Benno (ex-chef do Per Se), opening mais high-profile da estação. Aqui, matéria no The New York Times com preview do menu.
Para provar um menu degustação bacana, bem-pensado e bem-executado: Faustina, também na Bowery.
Faustina: The Cooper Square Hotel (25 Cooper Square, tel. (212) 475-5700,
Para ver como se faz barbecue direito: Fatty Q
Fatty 'Cue: Smoking Fat Heritage Breeds & Malaysian Flavors on the Barbie
O Fatty Crab, no West Village novaiorquino, sempre foi um dos restaurantes favoritíssimos do meu irmão (e concordo com ele). É muito bom mesmo: pratos do sudeste asiático, preços relativamente baixos, ambiente bem relax. Pra usar o clichê que mais detesto, vale a visita.
Por isso achei ótimo saber que o chef-proprietário Zak Pelaccio abriu no começo do ano um Fatty ‘Cue (de barbecue, ou churrasco) em Williamsburg, no Brooklyn.
Tem um vídeo que mostra TUDO sobre as carnes temperadas com pimentas e marinadas asiáticas, assadas na brasa e defumadas, que dá água na boca. Bem carnívoro, bem troglodita, mas… nham! Fatty ‘Cue: 91 South 6th St., Williamsburg (cliquem aqui pra ver onde fica no mapa)
Fatty Crab West Village
643 Hudson Street
(entre as ruas Horatio e Gansevoort)
Tel: (1-212) 352-3592
Links Úteis:
- post sobre a Bowery, com lista dos restaurantes e mapa
- post dos meus restaurantes favoritos em Nova York: Daniel, Minetta Tavern, Ssam Bar
- o Michelin 2011 de Nova York: lista dos estrelados
- índice de todos os posts sobre Nova York
E a crítica sobre o Hecho en Dumbo:
22.10.10
Chef Quique Dacosta fecha seu restaurante até março, e abre outro em Valência
Quique Dacosta (de avental preto) com Albert
Adrià em visita recente à Lapônia
Adrià em visita recente à Lapônia
Todo dono de restaurante de alta cozinha tem um sonho secreto de poder fechar para férias e pesquisas durante parte do ano, mas nem todos podem se dar esse luxo. O El Bulli, por exemplo, famosamente funcionava apenas nos verões, até o ano passado.
Pois agora quem resolveu fazer coisa parecida foi o Quique Dacosta, um dos maiores chefs da Europa, dono do restaurante homônimo em Denia, no Alicante, cotado com duas estrelas Michelin (mas merecedor de três, segundo me garantem amigos que estiveram lá recentemente). “Fecharemos dia 1o de novembro por quatro meses para fazer pesquisas, que são tão importantes quanto a criatividade, e minha paixão”, ele me explicou. “Precisava de um tempo sem a pressão do dia-a-dia do serviço ao nível máximo”.
Durante esses meses Quique estará ocupado também com seu novo “restô-mercado” MERCATBAR (Rua Joaquin Costa, 27, Valência, http://www.dacoandco.es/), inaugurado em Valência dia 18 deste mês. Tem legumes e verduras pendurados em cestos metálicos iguais aqueles de supermercado, e três “bares” servindo tapas contemporâneas e clássicas. Como se não bastasse, ele pretente abrir um bar de tapas mas com uma pegada mais vanguardista, também em Valência, em dezembro. O nome: Vuelve Carolina.
Saiu recentemente no jornal espanhol El País uma excelente entrevista com o Quique, em que ele diz, entre outras coisas, o seguinte:
Para conocer la cocina de Quique Dacosta hay que ir a Dénia. En MercatBar lo que hay es una cocina de memoria valenciana, bien hecha... De comer con las manos. La cocina que hice cuando empecé, como yo cocino en casa. Aquí está la respuesta a quienes dicen que los cocineros modernos no sabemos hacer cocina tradicional. Y Vuelve Carolina, que abrirá en Valencia antes de que acabe el año y estará dirigido por Manoli Romeralo, será también un lugar de tapas (también son tapas lo que hago en Dénia) con toque. No hay vanguardia, pero sí un detalle técnico y conceptual que hace que las tapas sean más contemporáneas. Quiero potenciar el concepto de la barra en ambos establecimientos. Yo creo en la barra: no es solo un lugar en el que se come, sino donde se comparte, se vive, hay roce...Achei que ele mandou muito bem nesta resposta:
Este é um tema muito controvertido, e tem muita gente que, francamente, acha bullshit essa coisa de restaurante como experiência, e não só lugar para se comer algo. Mas eu estou com Quique, acho mesmo que uma refeição magistral tem o poder de comover, de marcar. Vai muito além do simples ato de sentar, comer, matar a fome.
P. ¿Quizá porque la alta cocina de vanguardia es solo para una élite?
R. No estoy de acuerdo. La alta cocina no es para la élite, es para la gente. Además, ¿hablamos de élite económica o élite cultural? La alta cocina de vanguardia es un hecho cultural, que ha hecho de la evolución de nuestra cultura lo que es hoy vanguardia. A un restaurante de alta cocina hay que ir como se va a la ópera, a un teatro o a un concierto. Y ese es su éxito: que ha ocupado un espacio del que estaba relegado. La gente se mueve por la cocina como por los museos cuando viaja, sueña con tener su propia bodega... No estoy de acuerdo en que lo que hacemos es solo para una élite. Cuesta lo mismo comer en mi restaurante que su camisa.
Bom, esse Quique. Acho que é a localização que atrapalha.... Se o restaurante dele não ficasse tão longe dos pólos gourmets espanhóis (Catalunha e San Sebastian) ele seria, se não o top espanhol, um dos cinco melhores do país.
20.10.10
Controvérsia: o ranking dos 50 melhores restaurantes do mundo muda as regras
Pra quem lê este blog buscando dicas de viagem, o que vem a seguir não vai interessar muito. Aliás, não vai interessar MESMO: o post parece uma bíblia de tão longo!
Mas para chefs e restaurateurs não há hoje no mundo coisa que interesse mais do que o ranking dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. Simplesmente muda o jogo entrar naquela lista. O restaurante lota, o chef, se já não era, fica famoso. Um atalho à glória, portanto.
Recebi esta semana, do chefão da coisa pra América do Sul, o Josimar Melo, o convite habitual para voltar a integrar o júri. E de cara eu notei: mudaram as regras! Não são mais 5 restaurantes em que devo votar, mas sim 7. E achei divertida a parte que diz que serei solicitada a confirmar quando jantei nos lugares indicados - ainda bem que não sei mentir! :)
Como vivem me perguntando como é que o pessoal da revista Restaurant rege a votação, resolvi reproduzir a seguir as "regrinhas" que o Josimar me mandou, que já esclarecem muito.
• Você deverá nomear nem mais, nem menos, do que 7 restaurantes.
• Você pode votar em até 4 restaurantes em sua própria região (Brasil). Os 3 ou mais restantes devem ser localizados fora da sua região
• Você deve ter comido nestes restaurantes nos últimos 18 meses
• Você será indagado por que votou na sua escolha número 1. (EPA! Isso aqui também é novidade!)
• Você será solicitado a confirmar quando você visitou os locais.
• Se você trabalha, é dono ou tem vínculos financeiros com um restaurante, não pode votar nele
• O voto é para o restaurante, não para o dono ou o chef.
• Todas as indicações são confidenciais e não serão divulgadas sem o seu consentimento
DÚVIDAS FREQUENTES
• Os jurados podem votar em qualquer restaurante que quiserem, desde que o tenha visitado nos últimos 18 meses
• O jurado que não votar no prazo não será contabilizado, sendo substituído por outro
• Os restaurantes que compõem a lista não têm que vender qualquer produto
• A Restaurant Magazine organiza o evento e contabiliza os votos. A S. Pellegrino é patrocinadora, e não pode influenciar os voto ou os resultados.
Antes que já queiram me dizer que esse ranking dos World's 50 Best é balela, já vou dizendo: todo ranking relevante gera controvérsia.
Ninguém vai reclamar se o Diário de São Genoíno publicar uma tabela listando os dez melhores bares do Rio (uma árvore quando cai na floresta faz barulho?). Mas quando um ranking ganha a importância que tem hoje o The World’s 50 Best, e elege anualmente os 50 melhores restaurantes do mundo, a coisa certamente “pega”.
Trata-se de um ranking novo, que começou em 2002. Iniciativa dos editores de uma revista inglesa menor, dirigida ao trade, chamada Restaurant.
No começo, por serem ingleses, chamavam jurados principalmente ingleses. E eram poucos. Resultado: só dava restaurante londrino nos top 50, óbvio, embora o El Bulli já na estreia tenha levado o prêmio de número 1 do mundo (o que contribuiu enormemente para ele ficar famoso no mundo todo). Se vocês acham os resultados injustos hoje em dia, ficariam então totalmente chocados com o ranking daquela época, super eurocêntrico – pensando bem, era um absurdo dizerem em 2002 “melhores do mundo” quando mal se via outro continente representado além de Europa e América do Norte.
Vieram as críticas.
Logicamente, os editores da revista perceberam que tinham que abrir o leque. Começaram a convidar mais jurados de outros países. Processo que continua até hoje. Incumbiram um jurado-mór em cada uma das principais regiões do mundo de convidarem pessoas de seus respectivos “territórios” para fazer parte do júri.
Foi assim que o Josimar Melo me chamou quatro anos atrás para ser jurada.
E foram mudando as regras do jogo. Na revista Restaurant deste mês eles explicam como é feito o ranking hoje em dia:
“Dividimos o mundo em regiões votantes, cada qual com seu chairperson que por sua vez nomeia um júri de 31 membros composto de respeitados e viajados chefs, restaurateurs e críticos gastronômicos, e cada um deles vota em cinco restaurantes, sendo que no máximo três podem ser de sua própria região. A lógica por trás disso é ajudar a evitar regionalismos.
O mundo foi dividido em 26 regiões, baseadas no tamanho e na maturidade das respectivas cenas gastronômica. Por isso alguns países europeus, como a França, constituem uma região por si sós enquanto outros países são agrupados para formar uma região, como por exemplo Dinamarca, Noruega e Suécia. (…)
Para se votar em um restaurante é preciso ter ido comer nele nos últimos 18 meses e ninguém pode votar em seu próprio restaurante. No total 806 jurados votam, dos quais 264 votaram pela primeira vez nesta edição 2010, garantindo assim opiniões frescas e independentes. (..)
Não é uma ciência exata, mas até aí não argumentamos que seja. Achamos, isso sim, que se trata de uma lista honrosa e bem-feita.”
Qualquer um que leia as explicações acima irá dizer que o sistema pode privilegiar os chefs e restaurateurs que fazem parte do júri, que teoricamente podem até combinar de votar uns nos outros. De fato, essa é uma de muitas maneiras possíveis de “dar uma roubadinha”. Outra “roubadinha” possível seria votar em um restaurante sem jamais ter pisado nele: os editores da revista não têm como checar se cada jurado foi mesmo experimentar cada restaurante em qual votou, como deveria.
Só que se este ranking é falível, como de fato o é, preciso lembrar que todos os rankings o são. Prefiro não mencionar os rankings brasileiros porque alguns deles são publicados em revistas da Editora Abril, para a qual trabalho.
Mas sem citar nomes de publicações, posso dizer que cansei de receber email de dono de restaurante paulistano pedindo para clicar no link tal e votar na eleição tal de melhor francês, melhor italiano, whatever.
Chef não pode ser jurado!, protestam alguns. Tá. Então comecemos um movimento para impedir que atores votem nos Oscars, que tal?
O fato é que essa coisa de ranking com base na opiniões de jurados sempre contém injustiças, por mais séria e indenpendente que a publicação possa afirmar ser. Acontece muito de um jurado ir à Espanha a convite do restaurateur X, outro jurado ser amigo do chef fulano e por aí vai. Coisas da vida, e que acabam influenciando, sim, opiniões e votos.
O que estou querendo dizer? Que o ranking dos top 50 da Restaurant deve ser visto não como uma declaração absoluta de tal restaurante é melhor do que tal. Nao acho que a lista defina os MELHORES restaurantes, mas sim os mais IN – e digo isso no bom sentido. Os mais relevantes, os que mais atraem chefs e gourmets hoje, os mais inovadores. Os que estão em alta e que um grupo grande de pessoas julga valerem o desvio em uma viagem, por serem “destination restaurants”.
Apenas isso.
800 e tantos jurados… não é pouca gente. E os votos deles todos, bem ou mal, acabam servindo pra tomar o pulso da cena gastronômica mundial.
O Noma, vencedor este ano, pode não ser necessariamente o MELHOR restaurante do mundo, no sentido de ser o lugar com o melhor serviço, o melhor ambiente, a comida mais gostosa. Talvez o Ducasse no Plaza Athenée ofereça um ambiente mais bonito e confortável. Talvez o serviço ultra-polido do Per Se ganhe. Mas o Noma levou o prêmio de número 1 porque muitos jurados consideram-no um restaurante fantástico, que está influenciando chefs ao redor do mundo, quebrando pré-conceitos e apresentando de forma brilhante e NOVA ingredientes absolutamente desconhecidos do público. Mudando o jogo, em suma. E pra mudar o jogo é preciso genialidade.
A própria revista Restaurant explicou muito bem o que fez do Noma o campeão:
“Descrever o Noma como um lugar que põe em evidência produtos locais e sazonais é um pouco como dizer que Picasso sabia desenhar bem. Nem começa a explicar até aonde René Redzepi e seu time estão prontos a ir em busca do melhor produto que a Escandinávia tem a oferecer. Nem começa a explicar como buscam ingredientes selvagens nas florestas e nos mares, o que desencadeou o surgimento de um grande network de “colhedores” profissionais e fazendeiros que se tornaram fornecedores. Até os próprios chefs, nos dias de folga, partem para o mato para colher plantas para a cozinha. Todo ano colhem 100 quilos de rosas selvagens na praia, que em seguida conservam em compotas. (…)
O Noma persegue seu lema com um objetivo lógico, de reconectar os clientes com a fonte de onde vem a comida servida, levando-os em um safári culinário, empurrando-os em direção dos bosques selvagens – não literalmente, claro, mas com uma sucessão de sugestões sensoriais que vão muito além do que está no prato. Couros animais pendem dos encostos das cadeiras, janelas dão para águas geladas e cinzentas e há velas por todos os lados. O próprio espaço se integra ao tema: trata-se de um velho galpão de armazenagem de sal e banha de baleia e o sal continua entranhado em suas paredes.
Há pratos que se come com as mãos: tartare de carne com wood sorrel (espécie de azedinha) que você rasga com os dedos e mergulha em um molho de zimbro selvagem e estragão; ou o rabo de lagostim servido sobre uma pedra quente com pó de alga e gotinhas salgadas de salsinha e suco de ostras.”
Melhor do mundo, pode não ser. Mas a última vez que eu li uma descrição tão interessante e intrigante de um restaurante, eu acabava de jantar lá e, duas semanas depois, soube que tinha sido eleito número 1 do mundo.
Foi em 2005, e o lugar se chamava… The Fat Duck.
19.10.10
Recordar é viver: meu ex-chefe Paulo Nogueira e os anos áureos da VIP
Paulo Nogueira, ex-diretor editorial da editora Globo e ex-chefão da Editora Abril, hoje vivendo em Londres |
Um tempo atrás, escrevi um post contando de uma das viagens mais loucas que já fiz: fui a 160 km por hora de São Paulo ao Rio numa Maseratti pra testá-la, com uma loirona escultural ao meu lado, estilo Thelma e Louise. Chegamos lá, tomamos um chopp, comemos uma empada (no Bracarense, óbvio) e voltamos.
Foi uma de muitas matérias de-li-ci-o-sas que fiz durante a fase mais memorável da minha carreira, quando era editora da VIP sob a direção de Marco Rezende e Paulo Nogueira, uns 8 anos atrás (ou seriam 10? Melhor não fazer a conta!).
Fui aos confins da Amazônia com o maior fotógrafo de Amazônia que já houve, o Pedrão Martinelli. Fiz uma vasta investigação sobre implantes de peito, chegando a visitar, de surpresa, a maior fábrica do Brasil, numa quebrada bem amedrontadora do subúrbio carioca, de capa e lupa à la Sherlock Holmes. Almocei com Remi Krug, jantei com Robert Mondavi, entrevistei putas em inferninhos, e, modéstia à parte, lancei um jeito novo (para níveis de Brasil) de criticar restaurantes: independência completa, textos soltos e sem clichês, fotos de primeira do grande Rômulo Fialdini (sim, eu tinha borderô pra isso!).
Vivi, enfim.
E sem editores seguros de si e sábios na retaguarda, dando mais rédea, não se faz nada disso.
Aqueles foram anos divertidos, sim, mas de muito trabalho, em que se sentia a energia no ar todos os dias na redação. Como bem diz o anúncio da Mastercard, não tem preço.
Sinto saudades, confesso. Muitas.
Meu consolo? Ver que não sou a única.
Hoje li um texto do Paulo Nogueira que me levou de volta para aqueles dias e me deixou nostálgica... Se alguém que lê estas linhas tem interesse por jornalismo, sugiro que passe lá no blog do Paulo para ver como ele conta a história da "boa e velha" VIP.
Grandes anos, grandes editores, grande redação, grandes momentos.
Será que é sonhar demais esperar que um dia aquilo se repita? Quem sabe nós - Mari, Paulo, Marco, Aran, Amoedo, Ailin, Lila - ainda não nos reunimos em uma super revista para iPad? Juro que não encosto na seção de carros, desde que minha matéria de estréia seja um giro pelos restaurantinhos do Piemonte....
E a seguir, reproduzo um trechinho da famosa matéria da ida de Maseratti ao Rio....
Estradeiras, by Alexandra Forbes (só alguns highlights pra não cansar):
“Que entendo eu de motores, válvulas e cilindradas? Nada. Nem seria louca de "testar" uma Maserati, que, pelo preço e pela fama, tem notoriamente um senhor motor.
Resolvi então fazer melhor: marquei uma ida ao Rio naquele sábado. Iria "dar um rolê", tomar um chopinho e comer uma empadinha no meu botequim favorito, o Bracarense, no Leblon, e voltaria em seguida. Afinal de contas, se o carro é mesmo rápido e gostoso como dizem, eu nem sentiria o tranco dos 900 km ida e volta, certo?
"Vai. Pisa. Vamos ver quanto o carro dá", eu disse à Biju, minha parceira de crime. Na primeira reta, ela pisou mesmo. Parecia que quanto mais rápido corria o carro, mais ele grudava no chão! Aos 200 km/h, não agüentamos a adrenalina. Baixamos pra 160 km/h.
A meio caminho, paramos pra fazer um turismozinho básico em Aparecida, capital da fé.
Que roubada! O sol, àquela altura, estava escaldante. Multidões, filas homéricas. Meninos vinham "alisar" o carro e ver se éramos estrelas da Globo. Compramos uns tercinhos baratos de lembrança e pulamos fora. Back on the road. Eu dirigia, o céu brilhava, e o melhor de tudo: a estrada estava seca. Acelerei até 200 km/h, mas também não ousei passar disso, mesmo sabendo que, segundo o velocímetro, o carro poderia ir a 280 km/h. Eu, hein?
Enfim, chegamos. Cansadas, mas empolgadas com a idéia do chopinho vespertino. E – que sorte! – conseguimos uma vaga logo em frente ao boteco lotado. Sabe como é carioca, né? Uns olhavam com o canto do olho, estranhando, outros cochichavam, mas ficou cada um na sua, ninguém veio ver o carro. Parecia que toda tarde uma Maserati com duas garotas parava ali. Estavam todos tomando seu chopinho – e nós também fomos buscar o nosso. Cremoso, gelado, perfeito. E a empadinha de camarão? Deliciosa! Ruins, só os caroços das azeitonas, incômodos de cuspir.
Demos um pulinho na praia pra molhar os pés, e…
estávamos prontas para outra!”
Prêmio World's 50 Best agora tem filhote: National Restaurant Awards
Putz, que gente esperta.... Como viram que o prêmio anual The World's 50 Best Restaurants fez um sucesso louco, a ponto de virar o prêmio gastronômico mais importante do mundo, os mesmos ingleses da revista Restaurant resolveram lançar um filhote, o National Restaurant Awards.
Só pra restaurantes ingleses. O restaurante do ano? The Ledbury (nunca tinha ouvido falar, confesso), em Notting Hill.
O chef, Brett Graham, é australiano, mas a cozinha é descrita como "contemporary French coupled with Pacific Rim influences". Soa péssimo, pra ser sincera.... certamente não deve ser algo tão fusion na realidade.
Chefs Magnus Nilsson (à esq.) e Claude Bosi, na Lapônia |
Mas eu gostei mesmo foi de saber que deram o Chefs’ Chef of the Year para o super simpático Claude Bosi, o francês que trabalhou anos sob o regime ditatorial de Alain Passard no L'Arpège antes de abrir seu próprio restaurante, o Hibiscus, em Mayfair. Tem duas estrelas Michelin, e está na minha lista de lugares a experimentar na próxima ida a Londres...
Chefs Claude Bosi (à esq.) e Albert Adrià na Lapônia |
Estive com Bosi lá no Cook it Raw, na Lapônia, e ouvi histórias de bastidores do l'Arpège de deixar qualquer um de cabelo em pé: esse Passard, com seu perma-sorriso, engana direitinho... Quem diria que ele se transforma em déspota impiedoso dentro da cozinha!
Voltando ao prêmio, que foi anunciado com grande pompa no último dia 11: o The Ledbury ganhou do The Fat Duck, que no ranking mundial tem a 3a colocação, atrás só do Noma e do El Bulli. Contraditório? Claro. Pra vocês verem como esses rankings sempre têm falhas...
Aqui abaixo, a lista dos principais vencedores do 2010 National Restaurant Awards. E, claro, é bom lembrar que o resultado é fruto de votos de jurados, muitos dos quais podem ter rabo preso. De todo modo, serve para dar uma idéia dos restaurantes que estão em alta por lá...
1 The Ledbury, London
2 The Fat Duck, Berkshire
3 Bistro Bruno Loubet, London
4 Hibiscus, London
5 The Walnut Tree, Monmouthshire
6 Restaurant Sat Bains, Nottingham
7 Bar Boulud, London
8 The Square, London
9 The Waterside Inn, Berkshire
10 Galvin La Chapelle, London
11 Restaurant Nathan Outlaw, Rock
12 Pied a Terre, London
13 The Hardwick, Monmouthshire
14 Hix, London
15 l’Anima, London
16 Le Champignon Sauvage, Gloucestershire
17 Terroirs, London
18 Arbutus, London
19 Le Manoir Aux Quat’ Saisons, Oxfordshire
20 Restaurant Andrew Fairlie, Perthshire
21 Wild Honey, London
22 Marcus Wareing at the Berkeley, London
23 Bocca Di Lupo, London
24 The Kitchin, Edinburgh
25 The River Café, London
26 Northcote Manor, Lancashire
27 Hix Oyster and Fish House, Dorset
28 St John, London
29 Galvin Bistro de Luxe, London
30 Polpo, London
31 The Sportsman, Kent
32 Maze, London
33 Hand and Flowers, Berkshire
34 The Star Inn, North Yorkshire
35 Hakkasan, London
36 L’Enclume, Cumbria
37 Trullo, London
38 L’Atelier de Joël Robuchon, London
39 Roka, London
40 Simpsons, Birmingham
41 Elephant Restaurant, Torquay
42 Chez Bruce, London
43 Restaurant Gordon Ramsay, London
44 La Becasse, Shropshire
45 Harwood Arms, London
46 Alain Ducasse at the Dorchester, London
47 Koffmann’s, London
48 Midsummer House, Cambridgeshire
49 Petrus, London
50 Mya Lacarte, Berkshire
51 Hereford Road, London
52 Jack in the Green, Devon
53 The Modern Pantry, London
54 Zuma, London
55 Le Café Anglais, London
56 Porthminster Beach Café, Cornwall
57 Galvin at Windows, London
58 The Quilon Restaurant & Bar, London
59 Viajante, London
60 Zucca, London
61 The Three Chimneys, Isle of Skye
62 Le Gavroche, London
63 Hipping Hall, Kirkby Lonsdale
64 The Dogs, Edinburgh
65 Restaurant Martin Wishart, Edinburgh
66 Great Queen Street, London
67 21212, Edinburgh
68 Fraiche, Oxton
69 The Hinds Head, Berkshire
70 Gordon Ramsay at Claridges, London
71 Gidleigh Park, Devon
72 Corrigan’s Mayfair, London
73 Racine, London
74 James Street South, Belfast
75 Launceston Place, London
76 Ondine Restaurant, Edinburgh
77 Kitchen W8, London
78 L’Ortolan, Berkshire
79 Lucknam Park, Wiltshire
80 Purnell’s, Birmingham
81 Ode, Devon
82 Scotts, London
83 Bell’s Diner, Bristol
84 The Cinnamon Club, London
85 JoJo’s, Kent
86 Pipe & Glass Inn, East Yorkshire
87 Cafe Spice Namaste, London
88 Indian Zing, London
89 Hawksmoor, London
90 Barrafina, London
91 The Magdalen Arms, Oxford
92 Petersham Nurseries, Surrey
93 Tom Aikens, London
94 Wabi, West Sussex
95 Tyddyn Llan Restaurant with Rooms, North Wales
96 Koya, London
97 Browns Hotel, Tavistock
98 Murano, London
99 Braidwoods, Dalry
100 Yauatcha, London
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