E estou fazendo um esforço danado para não permitir que a dureza dos últimos três dias - verdadeiro pesadelo - mascarem algumas Polaroids que guardo na memória com carinho.
Sim, fiquei doente. Não a clássica intoxicação alimentar, mas algum híbrido desconhecido, que prefiro não descrever, mas que tanto me baqueou que tive que ser transportada nos aeroportos da volta de maca e cadeira de rodas.
Mas não percamos tempo falando disso, que a vida é curta e em breve estarei boa de novo. Queria contar da Índia, de que tanta gente anda me perguntando lá no Twitter. Ou, pelo menos, começar a contar como foi a viagem.
Primeiro, tenho que explicar que meu roteiro era pré-estabelecido. Fui como enviada da GQ para cobrir a final mundial do maior campeonato de coquetelaria que há, o World Class. Quem representou o Brasil foi a bartender Talita Simões, do At Nine, bar bacana na rua da Consolação (mais detalhes no link acima).
E os anfitriões, os figurões da multinacional de bebidas Diageo, armaram a coisa de modo que passamos a maior parte do tempo submersos no mundo dos coquetéis e destilados, no hotel Imperial, em Nova Dehli.
Entre uma tequila e outra eu fugia dali e saía para explorar, com os ótimos companheiros de viagem Luciano e Rodrigo.
Mesmo me considerando uma pessoa viajada, essas excursõezinhas pela cidade foram tapas na cara. Vi coisas e gentes que me deixaram atônita, ora rindo, ora torcendo o nariz de nojo ou pena.
Look típico pelas ruas de Dehli, onde gordos
inexistem. Vai um bifinho aí, amigo?
Em posts futuros, aqui e no site da GQ, vou dar as dicas do que vi de melhor por lá (poucas e boas). Mas hoje, ainda fraca e zonza e em processo de recuperação, o que me vem à cabeça de positivo desta viagem é simples: joie de vivre.
Nunca vi tanta miséria e imundície, e nunca vi um povo que mesmo vivendo naquele buraco quente consegue ser feliz. Eles sorriem, se desdobram em mesuras, deixam ser fotografados mesmo trajando os mais ridículos uniformes. São de uma humildade comovente.
Garçom no café da manhã do hotel Imperial
E mesmo os mais pobres dentre os pobres, os mais miseráveis, esmeram-se no look. Penteiam o cabelo, passam a roupa, capricham nos acessórios. Podem não cheirar lá muito bem, mas saem bem na foto. As mulheres, então, parecem estampar sua joie de vivre nos sáris que vestem, de uma exuberância e de um colorido deslumbrantes.
E é delas, das belas mulheres indianas, que tiro a lição: há que se ver o belo no feio, lembrar da alegria na tristeza. E assim, desembarquei em Guarulhos com novos olhos, já achando lindo aquilo tudo. Tão limpinho! Todo mundo calçado! Nenhum esgoto à vista! :) E, mesmo miseravelmente doente, mal conseguindo andar, pude resgatar da memória flashes felizes e coloridos para relatar no caminho até a casa.