29.10.11

Comendo em Turim e Valência: a coluna do Comida desta semana


Chuva de trufas sobre o estupendo talharim servido
no restaurante Vintage, em Turim


Ando sumida, eu sei, e peço desculpas. Mas não tem sido fácil a) achar conexão à web que preste pelos vilarejos do Piemonte e b) descolar algumas horas para blogar entre um banquete e outro.

Estou comendo pela Europa, em itinerário pouco convencional. Resolvi casar, na mesma viagem, Piemonte e Valência (além da pequenina Denia, mais ao sul, onde fica o restaurante do Quique Dacosta).

Logo mais começarei a contar das comilanças. Por enquanto, divido aqui minha coluna desta quinta-feira no caderno COMIDA da Folha:

Sou uma 'gastrovictim'



Sou dessas loucas obcecadas, que cruza oceanos para passar cinco horas sentada comendo

ESTOU DE partida ao Piemonte. Para quê? Comer e beber, claro: é época de trufas brancas, especialidade local. Pouco sei sobre a história de Turim, mas pesquisei longamente os restaurantes da cidade e arredores. Almoços e jantares estão marcados: quatro dias de comilança me esperam. Dali, pegarei horas de trem até Denia, ao sul de Valência, para provar o menu-degustação de um dos maiores chefs do mundo, Quique Dacosta. Conto as horas.
Sou dessas loucas obcecadas, do tipo que cruza oceanos para passar até cinco horas sentada comendo -e ainda acha bom. Mas que ninguém pense que só jornalistas cometem tais exageros. Parece crescer o número de gente que viaja expressamente para comer. Vários paulistanos vão ao Piemonte anualmente, como peregrinos a Meca.
Certo produtor de TV viajou a Chicago, onde achou que encontraria o nirvana gastronômico. Depois de uma noite "inesquecível" no Next, do chef Grant Achatz, escreveu-me emocionado agradecendo a dica. Há ainda o A., que de tanto ir ao Noma, em Copenhague, ficou amigo do chef René Redzepi e engatou namoro com a chef-patissière!
Se turistas normais orientam-se usando o "Lonely Planet", "gastrovictims" consultam o guia "Michelin". Parte da graça está em discordar de cotações e estrelas com conhecimento de causa. Em comum, têm o fervor dos devotos, que não se abala pelas refeições intermináveis ou eventual indigestão.
Quiçá o mais extremo "gastrovictim" que já vi, um certo "Cesare Goloso", de São Paulo, acaba de voltar de maratona gourmet com paradas nas melhores mesas da Europa: El Celler de Can Roca, Dos Cielos, Arzak e Quique Dacosta (duas vezes!), na Espanha; Gambero Rosso e Piazza Duomo, na Itália, entre muitos mais. Atacou a missão como guerreiro: antes da viagem, comeu regradamente e passou uns dias no spa "fazendo uma reserva negativa". Trocou e-mails com restaurantes, anotando as reservas no itinerário-tabela. Quando lhe perguntavam se tinha alguma alergia alimentar, respondia: "só à comida ruim".

ALEXANDRA FORBES, jornalista gastronômica e foodtrotter, conta de suas andanças e comilanças também no Twitter (@aleforbes)
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