jantar no El Bulli |
Que semana! Desde o instante em que cheguei em Barcelona não faço quase nada além de comer, beber, comer, beber, comer, beber. Haja fígado. Cuines Santa-Caterina, no mercado de mesmo nome. Moo, com assinatura dos Roca. Dos Cielos. Moments by Carme Ruscalleda. Tapas24. Bravo24. El Bulli. Arzak (em San Sebastian, onde fiz um pit stop de uma noite só para esse jantar). Dos Palillos.
Escrevo isto sentada em um trem lotado que vai se arrastando lerdamente até Girona, uma hora e pouco ao norte, onde mais uma longa orgia gastronômica me espera.
E reflito: faz sentido este modo de comer? De tão intenso o pique - beirando no obsessivo - meu corpo começa a achar massacrante.
Será que mesmo assim, os olhos, as papilas, o cérebro, conseguem absorver cada bocada? O retrato que ficou gravado na memória de cada almoço e jantar, terá distorções?
Não sei, mas sei que nesses casos de viagens brutalmente intensas, a companhia faz toda a diferença. Minha parceira de crime chama-se Marie-Claude Lortie e, como eu, tem uma sede que não diminui com o passar dos dias. Ela trabalha no maior jornal do Québec, o La Presse, há mais de 20 anos. Como eu, é crítica gastronômica (e vem blogando sobre nossa viagem, aqui neste link).
Marie-Claude Lortie e Juan Mari Arzak, em San Sebastian |
Ela corre x quilômetros todas as manhãs, em preparação para não sei qual maratona.
Eu, bem menos sábia ou disciplinada, acordo, bebo café e edito fotos, sem me permitir comer nada, para chegar a cada restaurante com apetite. Fome, digo.
O corpo protesta: meus olhos ardem de falta de horas de sono, sinto-me inchada, abatida. Mas lá dentro o fogo arde em altas labaredas, como se o embalo da maratona gastronômica extinguisse meu cansaço.
Mesmo que pareça injusto, eu comparo os restaurantes. E sei que os leitores irão me pedir o mesmo: "e daí, Alexandra, qual foi o melhor jantar no final das contas?"
Deveria responder com longa introdução que explique que um menu degustação de 44 pratos (no El Bulli) não pode se comparar a outro, vegetariano, de 6 pratos, no almoço, no Moo. Mas assim é: todos viajamos e comemos e, sem grande ciência, comparamos e julgamos com base em uma Polaroid, um dia da vida de cada lugar.
Portanto, para bem ou para o mal, com todas as inevitáveis injustiças e subjetividades, faço público aqui meu veredito:
tartare de tomate do El Bulli |
- Pratos mais gostosos: Dos Palillos
- Pratos mais lindos e minuciosamente executados: Dos Cielos
- Pratos mais alucinados e curiosos e perturbadores: El Bulli, óbvio
- Pratos mais apagados, embora belos: Moo
- Pratos mais irritantemente caros, embora bons: Bravo24
- Pratos mais poeticamente concebidos e descritos: Arzak (pelo próprio, o que ajuda!)
- Pratos vegetarianos mais brilhantes: El Bulli
- Comidinhas que mais impressionaram: Ganbarra, bar de pintxos em San Sebastian
- Melhor qualidade-preço: El Bulli
- Chef mais carismático e generoso e acolhedor: Juan Mari Arzak
- Chef menos simpático e acolhedor: Albert Raurich, Dos Palillos, que durante o jantar aparecia de vez em quando, de camiseta, fazendo fotos de pratos, dando de costas para os clientes, sem dar um aceno ou sinal com a cabeça sequer a todos que o olhavam.
As carnes do Bravo24, no menu: pero que caras, hombre! |
Dos Cielos, dos gêmeos Torres: pratos belíssimos |