Tomei um café com meu amigo Rogério há duas semanas e ele me perguntou:

“E aí, Alê, depois de um mês de São Paulo, o que você achou de realmente diferente e novo?”

Novidades não faltam na cidade: andei muito de táxi, todos os dias, e fui fotografando novos bares, restaurantes, lojas… tudo em plena ebulição, o dinheiro evidentemente segue rolando solto. Mas…. o que eu vi de realmente bom e diferente? O que eu recomendaria a um amigo como ele, que gosta de comer bem mas detesta frescura? Pouca coisa, confesso.

Pensei um minuto e respondi:

“Tem um lugar, sim, que eu recomendaria de olhos fechados. Chama-se Lá da Venda e serve um almoço delicioso”.

Não só o almoço é delicioso, como o lugar todo é delicioso também.  Verdade que sou menina, e portanto presa fácil para a “vendinha” que toma a maior parte do espaço, vendendo de goiabada a porta-retratos, de bijuterias a panelas esmaltadas e mil e um outros cararecos adoráveis e artesanais. Mas quem cruza a venda descobre, lá no fundo, um quintal fofo, com plantas em latas cobrindo as paredes, muita luz natural e poucas mesinhas (uma crítica: eita cadeira dura!).







Fui almoçar com dois velhos amigos e, de boas vindas, nos trouxeram pasteis cuja massa era de farinha de milho, diferentes mas muito gostosos.





Eu não resisti em matar a saudade de um bom picadinho. Mesmo porque, sabia que seria um picadinho de verdade, sem modernices nem releituras. The real thing.





Preferiria comer tudo em um prato só, ao invés de ter que ficar ciscando de pote esmaltado em pote esmaltado, mas entendi que o conjunto fica mais bonitinho montado assim, por partes…  Confesso que mal encostei no arroz, de tão cróc-cróc que estava a farofa, e de tão crispy que era a banana à milanesa. Ovo frito, carne bem temperadinha… ai ai, só de relembrar minha boca enche d’água.
Experimentei o mignon de porco da Mari com canjica e – incrível! – era tão gostoso quando o meu.





Ah…. mas tinha mais. Marco mandou muito bem ao pedir o pudim de tapioca com calda de baba de moça (um pouco diluída). Fundinho de côco, gosto de infância, uma loucura. Eu devorei minha imensa fatia de bolo de chocolate mas tive pena de não ter sobrado apetite para provar os doces de fazenda com queijo da serra da Canastra – uma raridade! Na venda, dá para comprar os doces inteiros e levar para casa.




Sabem que nada nessa vida é por acaso, né? E comidinha caseira boa não sai boa assim sem que haja alguém por trás que saiba das coisas. Esse alguém é Helô Bacellar, uma cozinheira de mão cheia, e das pessoas mais doces e generosas que já conheci. Descobri os dotes da Helô uns 20 anos atrás (!!!) quando fiz umas aulas na escola Atelier Gourmand, que era dela – e desde então, fui acompanhando a carreira dela, os lindos livros de receitas publicados…
Acho que não via Helô há uns 8 anos – razão a mais para ter adorado ir ao Lá da Venda e reencontrá-la.





E na saída… lógico que não resisti e tive que “dar uma gastadinha” – sorry, rapazes, coisa de menina mesmo! Mas adorei a ideia por trás da loja. A Helô quis fazer “um espaço que lembrasse as vendas de antigamente, que tinham de tudo e ainda serviam coisinhas para comer, tudo preparado com bom gosto e muito capricho”.


Prateleiras e balcões de uma antiga farmácia pintados de roxo ocupam todo o espaço da loja. Aquele montão de coisas com cara de interior foi escolhido a dedo pela Helô e encomendado de bordadeiras, crocheteiras, costureiras e cesteiros do Vale do Paraíba, além de artistas plásticos, artesãos, associações e cooperativas de todo o Brasil.


Vi lençóis, colchas, toalhas, jogos americanos e panos de prato em algodão puro, pintados, bordados ou com aplicações; chapéus de tecido ou crochê, vassouras, prendedores e cabides de roupa; cestas e sacolas em palha; rolo de macarrão, colher de pau, tigelas e cerâmicas diversas; frigideira, polenteira e assadeira de ferro fundido; canecas e panelas de ágata…Tem até bolsas em couro de capivara, bilboquê, pião e ioiô!

Bom, preciso dizer que gostei do lugar? Melhor lugar para um almoço preguiçoso, não há!





Lá da Venda: Rua Harmonia 161, esquina com Apicuelta, só almoço.
tel. 3037-7702