25.5.11

A última ceia no El Bulli: no caminho, há que se cheirar as flores...



Exausta, abatida, com olheiras profundas e uns 2 ou 3 quilos a mais, reflito sobre os dias que se passaram. Uma viagem em dois capítulos.

Catalunha, Douro. Jantar no El Bulli seguido de ziguezague por quintas debruçadas sobre o mais belo rio de Portugal.


E só poderia mesmo começar pelo começo, pelo jantar que me fez cruzar o Atlântico. Mas vou mais longe: antes até de mostrar o que comi - e como comi, Deus do céu! - queria ver se explico de onde vem essa melancolia e esse turbilhão de emoções que senti mesmo antes de por os pés dentro do mítico restaurante.

Pouco se fala do Parque Nacional onde está o El Bulli, montanhas semi-áridas debruçadas sobre o mar onde quase não se vê viv'alma (mais especificamente, na baía onde fiz um xis verde, na ponta direita do mapa abaixo).



Chega-se lá de táxi, partindo de Roses, balneário cafoninha que há anos vive em boa parte dos "gastroturistas peregrinos".




Foi em Roses que dormimos, eu e minha amiga Marie-Claude Lortie, que é crítica gastronômica como eu.  Rachamos um quarto modesto em um hotel mais modesto ainda, o Mar y Sol, e logo ao chegarmos o senhorzinho da recepção nos reconheceu e perguntou:
"Quieren el mismo cuarto de la otra vez?"

Surreal!



Tomamos banho correndo, largamos tudo de qualquer jeito e saímos, apressadas, ansiosas, de vestido e salto alto e cheias de esperanças e expectativas. Nervosas, enfim.


Mas bastou o táxi começar a subir o morro, afastando-se do balneário, para entrarmos em outro mundo. As casas foram rareando até sumirem, ao entrarmos no parque nacional.




Ali, só mesmo mato, arbustos baixos, flores selvagens e o mar. Paisagem para fazer calar até o mais chato dos gastroturistas.



Nós, sedentas por absorver e saborear cada instante, cada curva, pedimos para o motorista parar, tiramos fotos, sentimos o vento cheiroso e quente, deixamos, por uns instantes, a armadura cair e entregamo-nos a uma alegria infantil de turistas entusiasmadas.





Até que chegamos.

E como não poderia deixar de ser, Ferran Adrià nos virou de ponta-cabeça, mesmo se achávamos que seria, de certa forma, mais do mesmo que tínhamos visto em setembro passado. Mas qual o quê! Ele serviu-nos 47 bocados mágicos que não me saem da cabeça - tema da minha coluna de amanhã no caderno Comida, da Folha.... depois mostro fotos de cada um, prometo.

E com isso dou tchau, que já quase não consigo segurar os olhos abertos, e o voo de volta ao Canadá sai em poucas horas....



Aqui, vídeo que fiz do meu jantar no El Bulli em setembro de 2010...



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