8.9.10

Cook it Raw na Lapônia, e René Redzepi: reflexões inteligentes de um jornalista

Chef Petter Nilsson sendo filmado pelos cinegrafistas do Cook it Raw



Chefs corriam atrás de ingredientes e cozinhavam. Organizadores organizavam. Cinegrafistas rodeavam como moscas e atrapalhavam o trabalho dos outros.

E os jornalistas?

Que faziam os jornalistas no Cook it Raw?

Traduziam. Literamente, já que aquilo era uma torre de Babel, mas além disso, figuradamente. Procuravam explicar a eles próprios e ao público de fora em que diabo de fim de mundo tínhamos ido parar, e porque.

Mattias Kroon grelhando bacon à espera dos chefs

Sem dúvida alguma, voltei da Lapônia com um grande tesouro: amizades súbitas com jornalistas do primeiríssimo escalão. Um de meus favoritos chama-se Mattias Kroon e entende como poucos de gastronomia nórdica. Fui caçar patos com ele, e os chefs Alex Atala e Magnus Nilsson, numa tarde fria porém luminosa. Eis os caçadores:





Enquanto os chefs exploravam cantos protegidos do rio em busca de algo em que atirar, fiquei horas com Mattias ao redor de uma fogueira improvisada, grelhamos bacon e embutido de rena, e discutimos - que mais? - gastronomia.

 


A grande pena é eu não poder ler nada do que ele escreve (na revista Mat & Vanner), como o recente perfil de René Redzepi. Em compensação, Mattias fala inglês perfeito e soube resumir, como poucos, o espírito do Cook it Raw. Vejam neste vídeo, feito lá mesmo pela adorável Kim McLoughlin, outra jornalista de quem fiquei amiga:







E aqui, link para meu álbum de fotos do Cook it Raw!

Chef Albert Adrià no evento Cook it Raw: o privilégio de ver um gênio em ação


O bom deste blog é que não preciso explicar muita coisa: vocês já sabem que eu passei esta última semana na Finlândia, e também sabem o porquê, certo? (Quem pegou o bonde andando pode ler este último post para entender melhor....)

Pois acabei de chegar em casa (Lapônia-Helsinki-Frankfurt-Montreal-UFA!) e ainda me sinto vendo estrelas - com o perdão do trocadilho. Exausta, sem dormir direito há dias, mas... feliz. Aos poucos, vou contando o que eu vi lá no Cook it Raw, o happening que me fez viajar até a Lapônia (!). Mas por enquanto, vou mostrar só um pouquinho do que fez esses dias serem tão mágicos.

O Cook it Raw é uma espécie de acampamento de luxo em que chefs ultrafamosos vão ao mato colher coisas, caçar e pescar, e falar de comida. Tem como ápice o último jantar, em que eles mostram, através dos pratos criados, o que puderam tirar não só do terroir como da convivência intensa com os outros chefs.

Nessas, tive o privilégio de acompanhar passo-a-passo a criação da sobremesa que o grande Albert Adrià serviu no banquete de encerramento do Cook it Raw e só posso dizer o seguinte: minhanossasenhora!

Concluí que ele, simpatissíssimo, sorridente e modesto, esconde, por trás do jeito de menino de férias, um talento assustador que o eleva, simplesmente, a um patamar vários níveis acima de qualquer outro chef que lá estava.

Ele batia papo, jogava bola (e bem!) e participava de tudo, mas a verdade é que ele não se permitiu perder o foco.

Por mais rústico e primal que fossem o banquete e o entorno, Adrià serviu-nos uma obra-prima. A única obra-prima da noite, atrevo-me a dizer.

Por baixo de uma "neve" quase etérea achávamos -, assim como um camponês o faria em uma caminhada no bosque invernal se cavasse com as mãos alguns centímetros -  elementos do chão da floresta. Um berry típico (lingonberry, bolotinha vermelho-brilhante). Terra molhada e esponjosa. Folhinhas. Pedriscos arenosos, em forma de gergelim ligeiramente cristalizado.

Branco e rubi.

Neve e sangue.

Virgindade e brutalidade.

Vida e morte.

Albert disse-me várias vezes fazer coisas simples, ao ponto de eu achar ser a "sencillez" seu lema pessoal. Mas na verdade, a simplicidade está na cabeça dele. A mensagem dele era simples, sim. A limpeza dos sabores era simples. Mas o conjunto da obra não poderia ser mais complexo.

Bom, chega de falar - eu quero é MOS-TRAR! Presentinho que fiz pra vocês no voo de volta: um filme que mostra tudo o que eu pude captar do passo-a-passo.







E pra encerrar, umas fotinhos péssimas da baladinha pós-jantar: rolou até embaixada do senhor Albert em pleno salão.... :)


E aqui, link para meu álbum de fotos do Cook it Raw!
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