22.5.12

Steirereck, meu restaurante favorito em Viena




Por que resolvi falar de Viena de repente? Simples: estou em dívida com a leitora Cecília Menin, que está indo para lá em breve e me pediu dicas (meus posts antigos simplesmente desapareceram da internet!).


Cecília, em primeiro lugar, te peço mil desculpas pela demora. O post anterior, sobre o Anthony Bourdain, explica o porquê da minha recente falta de tempo...  Semanas in-ten-sas!


Reproduzo aqui abaixo um post antigo sobre o restaurante Steirereck que pode ser útil - lembrando que não tenho como saber se hoje continua tão bom quanto me pareceu três anos atrás.

Lá vai:

Nada no mundo me deixa mais feliz do que comer maravilhosamente bem. E - que sorte! - meu almoço de sábado foi um dos melhores da minha vida. Sério. Mesmo sabendo que o restaurante Steirereck tem duas estrelas no guia Michelin, e é considerado o melhor de Viena, não esperava aquilo tudo num mero almoço. E sem sequer ter pedido o menu degustação!



Do começo ao fim, foi um almoço simplesmente es-pe-ta-cu-lar. Tanto assim que quando veio a conta - 200 Euros pra dois, com cinco serviços, uma bela garrafa de tinto austríaco, espumante pra começar, etc - achei uma pechincha.

Primeiro, o Steirereck fica num cenário idílico, bem no centro do parque Stadtpark. Ventava muito, as últimas folhas sendo arrancadas à força das árvores e rodopiando pelo céu cinzento. Ao entrar no restaurante, vi que as mesmas folhas eram o tema central do décor. Apareciam esculpidas em gesso e presas ao teto, e em tons desbotados estampando as paredes.

Ao invés de cadeiras, imensas e confortabilíssimas poltronas de veludo. Ao invés de reles toalhas de mesa de algodão, lindas toalhas de linho rústico, passadas à perfeição, e, pra enfeitar, enormes flores vermelhas. Talheres Christofle, of course. Taças Riedel, of course.

E logo chega o carrinho de espumantes. Sou do time que prega "em Roma como os romanos", então fui de espumante austríaco ao invés de champagne. Abaixo a globalização! Pálido, bolhas pouco persistentes, mas fresco e leve e perfeito para o início dos trabalhos.



O amuse bouche parecia um ikebana de tão milimetricamente arranjado. Um mini pedacinho de frango com creme de rúcula, e um micro cubinho de geléia de buttermilk salpicado de ervinhas secas com gosto de camomila. Bom, mas o que veio depois estava muito melhor.

Minha primeira entrada: verdes variados, lâminas de imensos cogumelos, lâminas de nozes e uvas que haviam sido descascadas e recheadas com creme de abacate (nossa, que trabalheira que deve dar pra preparar!).



Segundo: língua de vitela cozida, depois passada em sementes de flaxseed ligeiramente tostadas e salgadas. Ao lado, as mais delicadas vagens francesas, como soldadinhos verdes, unidas por um vestígio de aspic e temperadas com vinagre de riesling, pernod, alho e échalottes. A garçonete surge então com uma molheira de prata e pinga gotas de óleo de semente de girassol. Deliciosamente estranho? Estranhamente delicioso? Eu só tiraria um pouco das sementes, pra sentir melhor o gosto da língua, que é das minhas coisas favoritas...



Terceiro: um mignonzinho de veado assado lentamente e servido ainda saignant, partido pela metade de alto a baixo. Ao lado, um purê etéreo de abóboras.  E lá veio ela de novo, a mesma menina, e com pinças de prata depositou ao lado da carne rubi uma tarteleta de massa folhada, queijo de cabra e figo caramelado. No molho, havia um susto de café, só pra acrescentar outra camada à complexidade do todo. Preciso dizer mais?





Quem é o louco ou o tonto que recusaria um serviço de queijos depois de ver um carrinho desses? Mergulhei nele às cegas - pra que pedir queijos franceses que já comi dezenas de vezes? Pedi logo um Vorarlberger Bergkase (brlé blré, nominho difícil que enrola a língua!), rijo e com aquela mesma textura granulosa de um grana padano. E um queijo alemão feito como um camembert, E um Kuh Kracher, um azul que dá coice, de derrubar leão. E, meu favorito, o Gravanzina, piemontês, que derretia sobre o mármore, chamando meu nome. Com sementes tostadas de girassol e mais uma fatia do esplêndido pão "de camponês".





Ainda tive gula o suficiente pra mandar um belíssimo suflê de framboesas renversé e libertado de seu ramekin à mesa, uma nuvenzinha rosada e deliciosa. Com sorvete, claro!



E então vieram as mignardises, quiçá as melhores que já comi. Gostei especialmente dos cubinhos brancos. Eram marshmallows, mas muito melhores do que marshmallows. Por dentro, lembravam o recheio de Nhá Benta. E por fora faziam créc créc. Tive que pedir pra repetir!



Saímos, andamos pelo parque. Voltei ao hotel e dormi o sono dos valentes, pra acordar só no dia seguinte.

Bom, acho que já deu pra entender... Viena não faz nenhum sentido sem o Steirereck.
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