Paulo Nogueira, ex-diretor editorial da editora Globo e ex-chefão da Editora Abril, hoje vivendo em Londres |
Um tempo atrás, escrevi um post contando de uma das viagens mais loucas que já fiz: fui a 160 km por hora de São Paulo ao Rio numa Maseratti pra testá-la, com uma loirona escultural ao meu lado, estilo Thelma e Louise. Chegamos lá, tomamos um chopp, comemos uma empada (no Bracarense, óbvio) e voltamos.
Foi uma de muitas matérias de-li-ci-o-sas que fiz durante a fase mais memorável da minha carreira, quando era editora da VIP sob a direção de Marco Rezende e Paulo Nogueira, uns 8 anos atrás (ou seriam 10? Melhor não fazer a conta!).
Fui aos confins da Amazônia com o maior fotógrafo de Amazônia que já houve, o Pedrão Martinelli. Fiz uma vasta investigação sobre implantes de peito, chegando a visitar, de surpresa, a maior fábrica do Brasil, numa quebrada bem amedrontadora do subúrbio carioca, de capa e lupa à la Sherlock Holmes. Almocei com Remi Krug, jantei com Robert Mondavi, entrevistei putas em inferninhos, e, modéstia à parte, lancei um jeito novo (para níveis de Brasil) de criticar restaurantes: independência completa, textos soltos e sem clichês, fotos de primeira do grande Rômulo Fialdini (sim, eu tinha borderô pra isso!).
Vivi, enfim.
E sem editores seguros de si e sábios na retaguarda, dando mais rédea, não se faz nada disso.
Aqueles foram anos divertidos, sim, mas de muito trabalho, em que se sentia a energia no ar todos os dias na redação. Como bem diz o anúncio da Mastercard, não tem preço.
Sinto saudades, confesso. Muitas.
Meu consolo? Ver que não sou a única.
Hoje li um texto do Paulo Nogueira que me levou de volta para aqueles dias e me deixou nostálgica... Se alguém que lê estas linhas tem interesse por jornalismo, sugiro que passe lá no blog do Paulo para ver como ele conta a história da "boa e velha" VIP.
Grandes anos, grandes editores, grande redação, grandes momentos.
Será que é sonhar demais esperar que um dia aquilo se repita? Quem sabe nós - Mari, Paulo, Marco, Aran, Amoedo, Ailin, Lila - ainda não nos reunimos em uma super revista para iPad? Juro que não encosto na seção de carros, desde que minha matéria de estréia seja um giro pelos restaurantinhos do Piemonte....
E a seguir, reproduzo um trechinho da famosa matéria da ida de Maseratti ao Rio....
Estradeiras, by Alexandra Forbes (só alguns highlights pra não cansar):
“Que entendo eu de motores, válvulas e cilindradas? Nada. Nem seria louca de "testar" uma Maserati, que, pelo preço e pela fama, tem notoriamente um senhor motor.
Resolvi então fazer melhor: marquei uma ida ao Rio naquele sábado. Iria "dar um rolê", tomar um chopinho e comer uma empadinha no meu botequim favorito, o Bracarense, no Leblon, e voltaria em seguida. Afinal de contas, se o carro é mesmo rápido e gostoso como dizem, eu nem sentiria o tranco dos 900 km ida e volta, certo?
"Vai. Pisa. Vamos ver quanto o carro dá", eu disse à Biju, minha parceira de crime. Na primeira reta, ela pisou mesmo. Parecia que quanto mais rápido corria o carro, mais ele grudava no chão! Aos 200 km/h, não agüentamos a adrenalina. Baixamos pra 160 km/h.
A meio caminho, paramos pra fazer um turismozinho básico em Aparecida, capital da fé.
Que roubada! O sol, àquela altura, estava escaldante. Multidões, filas homéricas. Meninos vinham "alisar" o carro e ver se éramos estrelas da Globo. Compramos uns tercinhos baratos de lembrança e pulamos fora. Back on the road. Eu dirigia, o céu brilhava, e o melhor de tudo: a estrada estava seca. Acelerei até 200 km/h, mas também não ousei passar disso, mesmo sabendo que, segundo o velocímetro, o carro poderia ir a 280 km/h. Eu, hein?
Enfim, chegamos. Cansadas, mas empolgadas com a idéia do chopinho vespertino. E – que sorte! – conseguimos uma vaga logo em frente ao boteco lotado. Sabe como é carioca, né? Uns olhavam com o canto do olho, estranhando, outros cochichavam, mas ficou cada um na sua, ninguém veio ver o carro. Parecia que toda tarde uma Maserati com duas garotas parava ali. Estavam todos tomando seu chopinho – e nós também fomos buscar o nosso. Cremoso, gelado, perfeito. E a empadinha de camarão? Deliciosa! Ruins, só os caroços das azeitonas, incômodos de cuspir.
Demos um pulinho na praia pra molhar os pés, e…
estávamos prontas para outra!”