Reproduzo esta reportagem, publicada na Viagem & Turismo em 2009, a pedido do Edu... por favor, tenham o cuidado de checar e ligar antes de ir a qualquer um dos restaurantes, já que os dados podem estar desatualizados....
Quando alguém diz que vai fazer uma viagem gastronômica por mesas premiadas, logo pensamos em Paris ou Nova York. as duas cidades ainda têm seu lugar no panteão das grandes, claro, mas hoje as capitais gastronômicas mais vibrantes mudaram de endereço. acredite: modas culinárias surgem, principalmente, nas cidades espanholas de San Sebastián e Barcelona.
A maior parte dos restaurantes mais criativos das américas está em Chicago. E os dois lugares com a maior concentração de restaurantes fantásticos por quilômetro quadrado não poderiam ser mais díspares: Tóquio, a alucinante megalópole japonesa, e o rústico e campestre Piemonte, no noroeste da itália. Os arredores de Alba – ou, mais especificamente, o triângulo formado pelas cidadezinhas piemontesas de Alba, Cuneo e Turim – reúnem um número impressionante de restaurantes de altíssimo nível culinário, desde trattorias com mesa bem cuidada e ambiente modesto a lugares elegantes merecedores das mais altas cotações nos guias Michelin e Gambero Rosso.
Comer e beber bem, ali, sempre fizeram parte do dia a dia, e os ingredientes e os tintos produzidos nas montanhas da região são lendários por sua excelência. acima de tudo, a região é famosa pelas trufas brancas, consideradas umas das iguarias mais sofisticadas da alta cozinha – no Piemonte, elas chegam aos mercados e aos menus no mês de outubro.
A calma e simplicidade dos vilarejos escondem uma cena gastronômica em ebulição. Cada
vez mais surgem restaurantes de cozinha contemporânea, comandados por jovens chefs para competir com os clássicos. a chegada dos novatos tem trazido lufadas de ar fresco e inovação à região. Para elaborar esta reportagem, e indicar os melhores restaurantes da velha guarda e da nova safra, contei com a consultoria de três gourmets italianófilos paulistanos, grandes conhecedores do pedaço: o chef Carlos Bertolazzi, sócio-proprietário do Zena Caffé, em são Paulo, e os restaurateurs Edgard Costa e André Lima, donos das pizzarias Casa Bráz.
Para Bertolazzi, um dos maiores talentos da região é o chef enrico Crippa. o cozinheiro abriu seu restaurante Piazza Duomo (Piazza risorgimento, 4, www.piazzaduomoalba.it, 173/366-167; 3a/sáb 12h/15h e 20h/22h, dom 12h/15h; Cc: a, m, v) três anos atrás e já ganhou a primeira estrela no Michelin e os três forchette no guia Gambero Rosso, segundo o qual Crippa tem “técnica refinada e um dedo direcionado ao oriente”. o restaurante ocupa duas salas de um palazzo fincado no coração de alba, a Piazza del Duomo, e serve comida moderna. os clientes escolhem entre um menu degustação cur-
to, a 60 euros, e um completo, a 90 euros.
Já edgard Costa é fã do Castello di Verduno (via umberto Primo, 9, 172/470-125, www.castellodiverduno.com; diárias desde € 100; Cc: todos), da família Berlotto, em verduno, a 11 quilômetros de alba. Construído em 1500, o castelo hoje abriga um pequeno hotel com quatro suítes de pé-direito duplo e ar aristocrático. Dos vinhedos da propriedade vêm as uvas usadas na produção de Barolos e Barbarescos. além disso, há três restaurantes “absurdos de bons”, segundo Costa, dos quais o mais sofisticado chama-se Real Castello (2a/3a e 5a/6a 20h/22h, sáb/dom 12h/14h e 20h/22h; Cc: to-dos). No menu, massas feitas lá mesmo, como ravioloni burro e sálvia, coelho ao estragão e torta de
avelãs com zabaione.
Costa e Bertolazzi aprovam também o moderninho All’Enoteca (via roma, 57, 173/95-857, www.davidepalluda.it; 3a/sáb 12h15/14h e 19h30/21h30, seg 19h30/21h30; Cc: v), do chef Davide Palluda, que nasceu na pequenina Canale (a 14 quilômetros de alba) e lá está, até hoje, no comando de seus fogões. o restaurante fica ao lado de uma enoteca especializada em vinhos da denominação local (roero). mas não vá pensando que por ser um “menino do interior” ele faz comidinha simples, paisana. Na verdade, o all’enoteca é “uma espécie de restaurante-conceitual-escola”, segundo Costa. o menu tem risoto de galinha com sorvete de bolo de especiarias, cordeiro cozido lentamente com menta e creme frito e, pra arrematar, queijos artesanais da região. as sobremesas são bem criativas.
Há, por exemplo, uma sopa de chocolate com sorvete de leite, um enigmático “momento exótico” e maçã ao alecrim com gelato málaga.
Por fim, outro que não falta na lista de Costa e Bertolazzi é o Guido da Costigliole (Località san maurizio, 39, 141/841-900, relaissanmaurizio.it; 2a/6a 19h30/21h30, sáb/dom 12h/14h e 19h30/21h30; Cc: todos), que faz parte do Relais San Maurizio (a 33 km de alba), um cinco-estrelas membro da prestigiosa associação Relais & Châteaux, com spa de vinoterapia, entre outros mimos. o restaurante tem uma estrela Michelin e três forchette gambero rosso. “eu garanto: quero morrer ali – com uns 153 anos”, diz Costa.
Mas não é imprescindível gastar muito para fartar-se da excelência culinária da região. No Piemonte, há abundância de restaurantes bons e em conta para os padrões italianos. Com um orçamento máximo de 50 euros por refeição, é possível comer maravilhosamente bem e tomar um bom vinho. isto é, desde que o viajante acerte nas escolhas.
Dois dos restaurantes badalados citados acima têm anexos onde servem uma versão simplificada e mais acessível do menu da matriz. No térreo do Piazza Duomo funciona o La Piola (Piazza risorgimento, 4, alba, 173/366-167, www.piazzaduomoalba.it ; 12h/14h e 19h30/21h30; Cc: a, m, v), bem mais casual, especializado na deliciosa comida caseira piemontesa. o Castello di verduno, que tanto impressionou Edgard Costa, tem um segundo restaurante chamado Ca’del’Re (via umberto Primo, 9, Verduno, 172/470-125, www.castellodiverduno.com ; 2a/3a e 5a/6a 20h/22h, sáb/dom 12h/14h e 20h/22h; Cc: todos), que também tem recebido elogios da crítica especializada.
O restaurateur andré Lima acrescenta que na região há dezenas de outros lugares simples e em conta, com cozinha excelente, os chamados casalingos. em Costigliole d’Asti (a 24 quilômetros de alba), por exemplo, fica o “e.s.P.e.t.a.C.u.L.a.r.” Café Roma (Piazza Umberto Primo, 14, 141/966-544, www.enofoodroma.it; 12h/22h; Cc: a, m, v). “o clima é familiar: o Babo no caixa e o figlioli no salão”, conta ele. infelizmente, a mamma, que era a chef, faleceu recentemente, mas o restaurante continua firme e forte. o chef Bertolazzi frequentava o lugar quando estudava gastronomia na cidadezinha.
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| Foto: Deco Lima |
Outra recomendação de Lima é a Osteria del Boccondivino (Via mendicità, 14, 172/425-674, www.boccondivinoslow.it; 3a/sáb 12h30/14h30 e 20h/22h; Cc: todos), em Bra, cidade a 17 quilômetros de Alba onde foi fundado, e mantém a sede até hoje, o célebre movimento slow Food (que prega o consumo de comidas orgânicas e refeições feitas sem pressa nem atalhos). um belo menu fixo, incluindo pratos como vitello tonnato, fusilli com ragu de legumes e pudim ao mel, custa 18 euros.
Em La Morra, a 15 quilômetros de alba, duas osterias são dignas de nota: a Veglio (Frazioni annunziata, 9, 173/509-341; 5a/2a 12h30/15h e 20h/22h Cc: a, m, v), com ótimo custo/benefício, e a del Vignaiolo (Frazione santa maria, 12, 173/50-335, 6a/3a 12h30/15h e 20h/22h; Cc: m, v), frequentada por produtores de vinho locais (também é hospedaria e tem cinco quartos cujas diárias custam 70 euros). essa última conta com excelentes vinhos para acompanhar pratos como tagliolini com linguiça e alcachofra com polenta, e mesinhas numa área externa com piso de pedra e linda vista. os pratos principais custam em média 10 euros.
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| Agnolotti da Osteria da Gemma |
Em Canale, Lima recomenda o Villa Tiboldi (Case Sparse, 127, 173/970-388, www.langhe.net/villatiboldi; 2a/3a 12h30/15h, 4a/dom 12h30/15h e 20h/22h; fecha jan; Cc: m, v), especializado emcomida piemontesa tradicionalíssima. Mas seu atual favorito é a Osteria da Gemma (Via Marconi, 6, 173/612-050, leradicieleali.it; 12h/14h30 e 19h30/21h30; Cc: a, m, v), em Roddino, a 21 quilômetros de Alba, que serve um cardápio fixo todos os dias.
Quando se chega lá, já está sobre a mesa uma seleção de salames regionais, e o cliente mesmo faz as honras. “Na sequência, começam a aterrissar sobre a mesa vitello tonnato, maionese de batatas e carne crua como antepasto. seguem tagliarin com molho de carne assada e agnolotti dal plim com manteiga e sálvia. Como secondo, coelho em panela e brasato al barolo. Para o tiro de misericórdia, pavês e pudins típicos da região”, descreve Lima. Tudo isso com direito a repeteco. O que faz pensar: será o Piemonte o paraíso?
