coluna de quarta-feira no caderno Comida da FOLHA:
O descobrimento do Brasil, parte 2
Com o Brasil tão na moda, o que antes seria impensável começa a acontecer: nomes famosos da cena gastronômica mundial vêm vindo comer e cozinhar por aqui em números crescentes. Muitos caem de pára-quedas, como o cozinheiro-televisivo canadense David Rocco, que esteve há pouco no Rio filmando episódios para um novo seriado sobre a nossa comida.
“Eu me decepcionei, confesso. Achava que os brasileiros gostassem mais de cozinha, mas vi pouca variedade e sofisticação, era tudo simplório e pesado”, me disse ele. A produção do programa o filmou comendo em Ilha Grande e em favela carioca – uma comédia de erros. Comeu em bares da Zona Sul escolhidos a esmo. Mandei-lhe dois livros no dia seguinte, pedindo que fizesse a lição de casa antes da próxima visita.
Já a americana Dana Cowin, diretora de redação da Food + Wine – revista de gastronomia que tem a maior circulação do mundo – ao vir ao Rio no Natal pediu seus conselhos a gente mais esclarecida: o chef Claude Troisgros. Levou a família ao Aconchego Carioca e mergulhou de cabeça na farta moqueca do Bira. Mas mesmo ela pouco sabia de , parecia confusa ao deparar-se com ostras de Búzios. “Alguém sabe mais sobre o assunto?”, perguntou, no Twitter.
Deus queira que ela tenha tido o bom senso de não prová-las. Nesse caso a desinformação não só é frustrante, como perigosa. Molusco, mangue poluído e alta temperatura são uma combinação letal. “E que eu saiba, não há ostras em Búzios”, notou o famoso chef argentino Francis Mallmann quando contei-lhe a história. Ele morou lá anos atrás.
O chef argentino Francis Mallmann exibe um atum bolinha recém-pescado e entregue por seu peixeiro baiano ao restaurante Los Negros, em Trancoso |
Mallmann está em Trancoso, na Bahia, tocando uma filial de seu concorrido restaurante Los Negros de Punta del Este. Descolou um peixeiro que lhe entrega pela manhã, de moto, o melhor do que se pesca por aqui. Há um bom albacora, um atum menor e mais magro do que seus primos nobres, que dão melhor sashimi. E nunca falta vermelho (ou guaiúba), que abunda nestas águas quentes. Enquanto chupa os ossos da cabeça de um, assado na brasa, ele diz: “este é um peixe muito elegante”. Em sua temporada trancosense Mallmann já provou (e aprovou) bolo de fubá, chocolate da Amazônia e muito mais. Pena que ele seja minoria. Para cada foodie culto e curioso que desembarca aqui há dezenas que não sabem a diferença entre cachaça e rum.
E aqui neste link, comentários do Carlos Alberto Dória sobre a última frase do texto acima, no blog dele, e-Boca Livre.
E aqui neste link, comentários do Carlos Alberto Dória sobre a última frase do texto acima, no blog dele, e-Boca Livre.
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