14.1.12

Dana Cowin, Francis Mallmann e outros estrangeiros no Brasil - coluna na Folha



coluna de quarta-feira no caderno Comida da FOLHA:



O descobrimento do Brasil, parte 2

   Com o Brasil tão na moda, o que antes seria impensável começa a acontecer: nomes famosos da cena gastronômica mundial vêm vindo comer e cozinhar por aqui em números crescentes. Muitos caem de pára-quedas, como o cozinheiro-televisivo canadense David Rocco, que esteve há pouco no Rio filmando episódios para um novo seriado sobre a nossa comida. 

   “Eu me decepcionei, confesso. Achava que os brasileiros gostassem mais de cozinha, mas vi pouca variedade e sofisticação, era tudo simplório e pesado”, me disse ele. A produção do programa o filmou comendo em Ilha Grande e em favela carioca – uma comédia de erros.  Comeu em bares da Zona Sul escolhidos a esmo. Mandei-lhe dois livros no dia seguinte, pedindo que fizesse a lição de casa antes da próxima visita.

  Já a americana Dana Cowin, diretora de redação da Food + Wine – revista de gastronomia que tem a maior circulação do mundo –  ao vir ao Rio no Natal pediu seus conselhos a gente mais esclarecida: o chef Claude Troisgros.  Levou a família ao Aconchego Carioca e mergulhou de cabeça na farta moqueca do Bira. Mas mesmo ela pouco sabia de , parecia confusa ao deparar-se com ostras de Búzios. “Alguém sabe mais sobre o assunto?”, perguntou, no Twitter.

   Deus queira que ela tenha tido o bom senso de não prová-las. Nesse caso a desinformação não só é frustrante, como perigosa. Molusco, mangue poluído e alta temperatura são uma combinação letal. “E que eu saiba, não há ostras em Búzios”, notou o famoso chef argentino Francis Mallmann quando contei-lhe a história. Ele morou lá anos atrás. 

O chef argentino Francis Mallmann exibe um atum bolinha recém-pescado e
entregue por seu peixeiro baiano ao restaurante Los Negros, em Trancoso


   Mallmann está em Trancoso, na Bahia, tocando uma filial de seu concorrido restaurante Los Negros de Punta del Este. Descolou um peixeiro que lhe entrega pela manhã, de moto, o melhor do que se pesca por aqui. Há um bom albacora, um atum menor e mais magro do que seus primos nobres, que dão melhor sashimi. E nunca falta vermelho (ou guaiúba), que abunda nestas águas quentes. Enquanto chupa os ossos da cabeça de um, assado na brasa, ele diz: “este é um peixe muito elegante”. Em sua temporada trancosense Mallmann já provou (e aprovou) bolo de fubá, chocolate da Amazônia e muito mais. Pena que ele seja  minoria. Para cada foodie culto e curioso que desembarca aqui há dezenas que não sabem a diferença entre cachaça e rum.


E aqui neste link, comentários do Carlos Alberto Dória sobre a última frase do texto acima, no blog dele, e-Boca Livre.


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