Anticuchos de coração de vaca, no Mistura, em Lima |
Levar pedrada faz parte de meu trabalho e não é a primeira vez que acontece. Mas confesso que desta vez impressionei-me com a quantidade de peruanos que escreveram por aí - em cartas à Folha, em comentários neste e em outros blogs, no Twitter, etc. - reclamando de coluna que escrevi para o Folha Comida de umas semanas atrás.
Se não fui direto ao ponto antes, foi pura e simplesmente por uma questão de prioridades e fala de tempo. Fui a Lima para trabalhar, comer, falar com chefs, reportar. E não podia deixar de testemunhar coisas importantes, que não se repetiriam, ou de provar pratos do chef y ou z, para dedicar o pouco tempo que tinha em Lima a controvérsias.
Melhor dizendo: não me pronunciei neste espaço, porém dei entrevista ao jornal peruano El Comercio em que já deixo claro - no mais pavoroso portunhol e com profundas olheiras! - o que penso de Gastón Acurio e dos rumos da gastronomia peruana.
Agora, de volta a casa, posso dar maiores esclarecimentos aos meus leitores, na minha língua - sempre mais fácil, não é?
Creio que meu erro tenha sido o uso da palavra paiseco, que para mim não tem um significado pejorativo como tem para muitos. Por isso, peço desculpas a todos que se sentiram insultados.
Ferran Adrià, de cinza, e Gastón Acurio, à sua esq. andando pela feira Mistura |
Mas qualquer leitor atento verá, ao ler o texto até o fim, que eu queria apenas dizer que em certas coisas, como por exemplo, tamanho geográfico, o Peru é menor do que o Brasil. Bem menor. Mas que em outros aspectos, é maior.
As chefs Morena Leite e Flávia Quaresma no Mistura |
O Peru, afinal de contas, conseguiu fazer grandíssimos avanços na esfera gastronômica. Para mim, e para muitos, trata-se de um pequeno gigante, que - espero! - servirá para dar um exemplo ao Brasil, onde brasilidade e conhecimento e valorização de produtos nativos ainda são um papo que alcança apenas a elite. O brasileiro médio acha que açaí só é aquela coisa roxa geladinha que surfista come com granola. O brasileiro médio não tem ideia do que sejam tucupi, xibé, arroz de cuxá, pequi. Ainda engatinhamos, enquanto o Peru navega de vento em popa rumo ao reconhecimento internacional porque seu povo entende mais da sua própria cozinha.
Disse isso, em outras palavras, na Folha:
"Taí o porquê da ascenção dos peruanos: todos jogam no time de Acúrio para forjar a imagem do Peru
gastronômico. Restaurantes típicos abundam. Taxistas e lojistas conhecem a herança à
mesa e orgulham-se dela. O governo investe. E aqui?
Assisti uma palestra do fotógrafo Pedro Martinelli, em evento gourmet em São Paulo. Clamou
emocionado pela preservação das tradições indígenas de trato da mandioca, mas não havia
mais do que 20 pessoas na plateia. Nossos fóruns gastronômicos custam caro e falam para poucos.
Já o Mistura, em Lima, orquestrado por Acúrio, deverá atrair cerca de 300 mil visitantes em setembro.
Famosos como Alex Atala, René Redzepi e Ferran Adrià darão aulas e assinarão um manifesto.
Será grande o impacto. Não só por estar ali a nata dos chefs estrelados mas também por se
tratar de uma feira vasta, democrática e farta em comidas, feita pelo povo e para o povo.
Esse Peru exuberante, exótico e exibido rodará o mundo em imagens enquanto assistimos de camarote."
A coluna era, em suma, uma crítica ao MEU país, e não ao Peru. Era meu modo de expressar uma vontade de que MEU povo apreciasse mais sua herança culinária, como faz o povo peruano. Que o governo ajudasse, facilitando a vinda de jornalistas gastronômicos ao Brasil, e a participação em fóruns internacionais dos nossos chefs - sem esse intercâmbio, a coisa jamais pegará embalo. E que os eventos gastronômicos do Brasil fossem inclusivos, democráticos e impactantes como o Mistura.
Onde havia um elogio, enxergou-se uma crítica. Eis aí a pena.
Que deixemos de lado picuinhas e vejamos o positivo: hoje avança o Peru, avança o Brasil e avança a gastronomia sul-americana. E ponto!
E mais Mistura e Gastón Acurio neste blog:
- O grupo de chefs G9, a Carta de Lima que assinaram, e os disparates escritos pelo jornalista inglês Jay Rayner
- Chef Gastón Acurio: quem é e o que fez pela gastronomia peruana
- Chef Gastón Acurio sobe ao palco no Mistura: vídeo
- "O Peru Ganhou de Nós", minha coluna sobre o Peru e o Mistura, na Folha
- Mistura 2011: o G9 e os destaques da agenda
E mais:
Passeio virtual pelo Mistura: série de vídeos dos vendedores de comidas feita pelo jornal peruano El Comercio
PERCEPCION ES REALIDAD: Sí, tal vez esa era tu intención (criticar a Brasil), pero es indudable que lo hiciste mostrando desprecio hacia el país que te incomoda (Perú) y con esa repugnante soberbia que tienen los brasileños ignorantes hacia el resto de países de Sudamérica. En otras palabras, no escribiste como ahora lo estás haciendo, con esa "humildad", si no, expresando prepotencia y arrogancia.
ReplyDeleteEstimada amiga brasileña
ReplyDeleteCapaz fue un erroe el término usado, pero quién no se equivoca, pero algo hay que quedar en claro, lo que sucede realmente es que el EGO BRASILEÑO, como PAÍS MAIS GRANDE DO MUNDO, es único, y ustedes cómo sociedad no pueden soportar en su gran ego, que un país pequeño obviamente en comparación en Brasil, haya logrado avances en el tema culinario. Y es una pena, obviamente que Brasil tiene infinidad de recursos materiales, humanos, espirituales, etc. Pero parece ser que cómo sociedad están más divididas que el Perú. Aún así a pesar de nuestras carencias como sociedad, Gastón Acuario a través de la comida está uniendo a todos los estratos de la sociedad peruana. Ahora también, valga la verdad usted, se está convirtiendo en una mujer famosa en el Perú. jaja
Good luck
Beutiful girl.
Acompanho seu blog com alguma freqüência, e achei improcedente essa celeuma toda, foi uma espécie de tempestade em copo d´água, impressionante como sem querer podemos atingir algum ponto sensível... mesmo sem querer
ReplyDeletenão se preocupe, as pessoas certamente vão perceber q foi um mal-entendido, acontece com qualquer uma... Comigo já aconteceu várias vezes, dizer uma coisa e as pessoas entenderem outra..
te mandei um email
Caso fechado, melhor virar a folha.
ReplyDeleteQue pena, nunca deveu acontecer.
Olha, não souber o significado duma palavra!! então que claser de jornalismo faz?
ReplyDeletebom, no final de conta, a senhora já é "muito querida" no Perú, e de graça.
Seria bom dar um novo passeio por lá... o que acha?
Não foi em chamar o Peru de "paiseco" que você errou. Nem foi um mal entendido. Te digo de maneira sincera e humilde: você não entendeu seu erro, e poderá cometê-lo novamente!
ReplyDeleteEntão preste atenção, vou falar exatamente qual é o problema, e por favor não o leve como ofensa, mas sim tente entender bem o que quero dizer para que não volte a acontecer e denegrir ainda mais sua imagem.
O que faltou, na verdade, foi conhecimento antropológico na redação da coluna. Em outras palavras, entender a maneira como seus comentários podem afetar a outras pessoas, especialmente de cultura e realidades distintas. Veja por exemplo este vídeo de um show de humor:
http://www.youtube.com/watch?v=eqi4xkHFaBs
É muito claro como que, ainda que expressada neste caso a reação foi bem humarada, nós brasileiros do Brasil se sentem ofendido quando menosprezam nosso futebol. Neste caso, o francês talvez não teve má intenção, talvez até escolheu mal as palavras para siemplesmente expressar a saudade que tinha de seu time. Mas tocou um tema que moralmente afeta de maneira forte o brasileiro por questões sociais e culturais, esse foi seu erro.
Se você tivesse falado com o mesmo tom sobre outro tema, como o desenvolvimento tecnológico do Peru, ninguém desse país ia ligar muito, pois esse desenvolvimento, ainda que considerado importante, não é culturalmente valorizado, ou motivo de orgulho para o país. Mas você falou de GASTRONOMIA.
Os peruanos tem a gastronomía como o grande orgulho nacional. Isso de deve tanto pelo seu desenvolvimenteo técncio, como várias premiações e reconhecimentos internacionais destacados. É como a gente com o futebol e nossas copas do mundo: existe alguns que não ligam muito, mas em geral, o brasileiro faz tempestade em copo d'água se um extrangeiro o critica.
Já morei no Peru por um ano, e digo uma coisa sem sombra de dúvidas: a gastronomia lá é a bandeira do país. Para você ter uma idéia, lá gastronomia é um curso superior de maior prestígio. Ter um filho cozinheiro formado, em geral, dá mais orgulho para eles que um filho médico.
Então quando um extrangeiro fala de sua gastronomia, esperam que falem de maneira grandiosa, ou no mínimo com algum ênfase no tema ou elogio. E o mesmo é para um brasileiro quando um colunista extrangeiro fala de futebol.
Mas entenda uma coisa: não foi só desconhecer o aspecto antropológico da gastronomia para os peruanos que provocou tanto alvoroço. Foi o aspecto antropológico geral: ao tratar um tema cultural de um povo, você não pensou no impacto do que dizia para esse povo.
Então recomendo que tenha presente minhas sinceras sugestões:
- Nunca fale de outra pessoa, povo, ou cultura sem considerar o ponto de vista deles, e principalmente, no que representa para eles isso que você está dizendo.
- Procure capacitar-se um pouco mais sobre antropologia. Suas e textos tem apresentação e redações excelentes em termos de leitura e conteúdo, mas esse conhecimento é uma debilidade que pode ser melhorada!
Sem mais, espero que o que eu disse possa servir de algo! Um abraço.
Peruanos "atentos leitores" entendimos muito bem o que você quiz dizer no final do comentario. Mas isso não vai fazer esquecer a palavra que é SIM pejorativa. Algumas veces é melhor reconhecer os erros a tentar dar disculpas. O uso dessa palavra foi de fato infeliz e ponto.
ReplyDeleteInteresante el punto de Rodrigo. Igualmente diré que la "autocrítica" o "crítica a Brasil" de esta señorita es como mínimo curiosa. Es una crítica que pretendiendo ser contra Brasil, en el fondo destila envidia y arrogancia contra Perú. Es algo que fácilmente se detecta entre líneas, por mucho que racionalice: "quise atacar a Brasil hiriendo su orgullo de país grande". Hay algo de rabia y de enojo por el país pequeño que supera al grande, pero que no es, como ella pretende hacernos creer, "una táctica" para espolonear el orgullo brasileño. En el fondo, ella no acepta que Perú pueda superar a Brasil en ningún orden, así como muchos brasileños tampoco aceptan que Bolivia gane 6-0 a Brasil en fútbol (ha sucedido). Para ella, eso es algo circunstancial, un accidente contra el destino manifiesto de un país que siempre ha querido ser más Estados Unidos que Sudamérica. Esta forma de escribir expresa fabulosamente algo que he detectado viviendo en Brasil, la ligereza, frivolidad y arrogancia para ver a Latinoamérica al punto que muchos brasileños hablan de los vecinos como los "latinos". Increíble si no fuera cierto, ellos no se incluyen como "latinos".
ReplyDeleteNao entendo como pode tanta gente insistir em debater este tema quando o assunto já se esgotou!!!! Esses peruanos são inseguros, me parece porque não param de falar no que foi escrito e parece que nem prestam atenção nas explicacoes nem enxergam o outro lado da historia!! Alexandra, voce esta de parabens, adoro seus textos!!! Daniela, Sorocaba
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