24.6.11

Jantar no Momofuku Ko, em Nova York: porque me decepcionei



No início de maio, minhas amigas Karin e Constance conseguiram o impossível: marcaram um jantar no Momofuku Ko, o restaurante novaiorquino mais impossível de se conseguir reserva. O tão almejado passe para comer no Ko foi o que me fez pegar um avião para Nova York, confesso. Empolgada como uma colegial, dias antes prometi aqui contar “as cenas dos próximos capítulos”.

Pois bem: o tão aguardado jantar foi uma lição divina. Aprendi que não se deve nunca acreditar no hype sem conferir com seus próprios olhos e boca se algo merece mesmo a fama que tem.

No dia 11 de maio, ao acordar, postei no Twitter: “Jantar ontem à noite talvez tenha sido a maior decepção da minha carreira. Ainda tentando entender o quão decepcionante foi.” Nem sequer mencionei o nome do restaurante, já que o objetivo não era castigar, mas sim desabafar. Afinal de contas, depois de incontáveis tentativas frustradas de reservar lugares naquele famoso e pequeno balcão, fui jantar lá e.... a experiência ficou quilômetros aquém das minhas expectativas. Saí do Ko inconsolável, triste mesmo.

Pensando bem, logo ao pisar lá dentro já senti que a coisa poderia não correr como eu gostaria. O sujeito que me recebeu queria ver a prova impressa de que tinha mesmo um lugar reservado. Humpf! Perguntei a ele: “e por acaso tem alguma outra reserva de quatro lugares em nome de Karin e Constance?!”

O espaço em si era bem feinho e sem graça, estreito, pouco confortável – e aos que dizem que isso não importa, eu respondo que importa, sim senhores! Logo chegaram as outras meninas e começamos o jantar. Secamente, friamente. Não nos sentíamos bem-vindas ali.

Logo a música começou a irritar. Altíssima, descabida. Confesso que sou bem chata com isso, mas mesmo relevando minha preferência por restaurantes silenciosas nem mesmo um adolescente skatista acharia aquele volume de som normal. Mal dava para escutar o que o garoto-chef estava nos servindo.
Ah, sim, ainda não contei da comida....

O menu degustação era como uma montanha-russa, repleto de altos e baixos. Notas amargas e doces sobressaíam-se. Um incrível caldo dashi (especialidade do chef Chang) com broto de ervilha, porco, bolinhas de melão e uni traduzia lindamente aquele início de primavera. Maravilha.

Pena que na sequência serviram-nos um ovo supostamente defumado - parecia o ovo cozido que sirvo a minha filha de café da manhã. A compota de cebola que o acompanhava, dulcíssima, roubava o holofote. E, assim, seguiu-se: um erro, um acerto, um erro, um acerto. Terminando com uma sobremesa intragável, salgada, onde só se salvavam os pedacinhos de ruibarbo no fundo do prato.

Bem feito para mim, que cheguei lá com expectativas altas demais. Mas que a má experiência sirva de importante lembrete: há que se ir a restaurantes sem opinião formada, o quanto seja isso possível. Por isso evito sempre ler críticas de colegas sobre um lugar onde ainda não estive.

E não se pode nunca pensar que inacessibilidade é sinônimo de excelência.

O mundo está cheio de bibocas onde se pode ir sem reserva e comer esplendidamente, enquanto muitos lugares caros e badalados, que se fazem de exclusivos, não entregam o que prometem. Assim como em tudo na vida, à mesa o preconceito (o pré-conceito, seja para o bem ou para o mal) atrapalha e envenena.

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