Coluna desta quinta-feira no caderno Comida, da Folha
A simbiose entre chefs e blogueiros, caldeirão de amor-e-ódio, parece prestes a entornar. Se por um lado restaurantes faturam cada vez mais fama e fortuna graças a relatos detalhados de jantares postados na web (que podem ser repicados ad infinitum via Twitter e Facebook), por outro, nem todo post é positivo ou mesmo factualmente correto. De elogios todos gostam, mas quando algo escrito desagrada ou insulta, chefs naturalmente sentem-se vítimas injustiçadas, vulneráveis a ataques às vezes até infundados.
Em maio o respeitado chef Alex Stupak (ex-Alinea e WD-50) levou pancada de um food blogger americano por ter deixado a pâtisserie avant-gardista para abrir um restaurante mexicano. Revidou publicando uma carta ao importante site Eater onde defendia o direito de mudar a rota de sua carreira e apontando erros na crítica: “dizer que estou dando um passo para trás quando você não tem ideia do quão difícil foi fazer o que fiz é um insulto. (...) Você não teve nem a decência de checar a ortografia de um chef muito prolífico nem sabia que ele tem hortas próprias (...) Dizer que sou mais “ligado às feiras” é outro indicador de ignorância e escrita preguiçosa”.
O blogueiro aprendeu na marra que criticar restaurantes é pesada responsabilidade que requer ética e savoir faire e que deveria ser deixada só para quem sabe do que fala. Mas incidentes desses não impedem que surjam a cada dia novos “críticos gastronômicos” formados pela Universidade Wordpress, postando em blogs e nas mídias sociais milhares e milhares de descrições e fotos de suas experiências gastronômicas. Uns entendem mais, outros menos – mas coletivamente exercem tremendo poder e, individualmente, em maior ou menor grau, podem denegrir a imagem de um chef.
Naturalmente, os chefs procuram se defender das críticas, sejam elas justas ou não. Publicar respostas a ataques, como fez Stupak, nem sempre ajuda: acaba jogando-se mais lenha na fogueira e chamando atenção para aquilo que se quer ocultar. Os mais espertos tornam-se amigos do maior número possível de blogueiros e jornalistas, fornecendo notícias em primeira mão, oferecendo jantares grátis e disparando elogios pelo Twitter: chamemos esta a tática desmonta-inimigo. Mas há aqueles que, desconectados da nova era-em-que-tudo-vira-notícia-em-meio-segundo, tentam tapar o sol com a peneira. Como? Fazendo para seus restaurantes sites ocos e proibindo que clientes tirem fotos.
Em Nova York, o superhypado Momofuku Ko, o caríssimo japonês Masa e o Locanda Verde baniram as câmeras. Isso impede que se achem na web fotos tiradas com celular ou centenas de posts? Elimina o risco de ser criticado? Não.
A esses eu diria: desistam, meus caros. É inútil tentar controlar esse monstro amorfo chamado internet.
Mais vale ignorar o ruído e focar no que interessa: cozinhar bem.
Alexandra. tudo bem? tenho um blog de viagens e comento tambem sobre restaurantes. Não faco criticas apenas divido as experiencias que foram positivas. Li seu post e queria de dizer que fui super MAL atendida no Locanda, acho que por isso eles baniram as fotos risos... para evitar criticas. A comida estava otima mas o atendimento pessimo. Parabens pelo seu trabalho. abs carla www.longeeperto.com
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