3.11.10
O melhor do Mesa Tendências, evento de gastronomia em São Paulo
A vida é feita de escolhas, e embora eu quisesse MUITO que meu dia tivesse 48 horas ao invés de 24, não consigo estar em todos os lugares em que gostaria de estar ao mesmo tempo.
Resumindo: não consegui ir à Semana MesaSP e ao Mesa Tendências, eventos da revista Prazeres da Mesa, só porque escolhi ir a outro super fórum gastronômico, o Gastronomika, que começa logo logo em San Sebastian, Espanha.
(Aliás, antes que eu me esqueça.... EBA!, estou contando os dias!!)
E sei que perdi coisa muito boa... Pelo menos, meu consolo foi ler o belo relato de minha amiga Constance Escobar no blog dela. O trecho mais bonito fala de duas mulheres que roubaram o show: Teresa Corção e Roberta Sudbrack. Constance explica porquê:
"Eu lhes diria que foram duas brasileiras que me proporcionaram os melhores momentos do congresso, roubando-me até algumas lágrimas...
Teresa Corção, engajada em fazer da gastronomia não um fim em si mesmo, mas um instrumento de integração social e promoção da cultura da sua terra, trouxe ao palco do Tendências, diretamente de Bragança, interior do Pará, Seu Bené, um verdadeiro artesão brasileiro, que fabrica a farinha d’água considerada a melhor do país.
Sujeito simples, acomodou-se um tantinho acanhado, meio alheio a tudo, olhos fixos no vime que suas mãos transformariam. O que lhe interessava era se concentrar na produção de um paneiro tal qual aqueles que fabrica e usa pra vender sua farinha no Pará. Era pra isso que estava ali: mostrar a sua arte, genuinamente brasileira. Juntos, Teresa e Seu Bené levantaram a plateia.
E Roberta Sudbrack, que já dizia a que veio já no título que escolheu pra sua apresentação: “Por uma memória que nos sustente”. Projetou diante de olhos emocionados um filme sobre uma viagem sua a Itabirito, interior de Minas Gerais, e as pérolas descobertas na Mercearia Paraopeba, do mineiro Roninho, entre elas, um majestoso fubá feito pelas mãos de uma senhora de mais de oitenta anos, figura tocante, que herdou da vida esse ofício e a ele não renuncia.
As cores, a música, o gestual do brasileiro simples, do interior, tudo naquele vídeo pulsava na frequência da alma brasileira. Um retrato comovente do Brasil, que, ao se encerrar, deixou no auditório, por alguns segundos, um silêncio sepulcral, daqueles que nos tomam quando somos confrontados com o poder da verdade. Como se não bastasse, ao fim de sua apresentação, Roberta conduziu o tom da emoção uma oitava acima, ao fazer subir ao palco o próprio mineiro Roninho.
Eis aqui, pra quem quiser conferir, o belo filme de autoria de Yuri Samico, surrupiado do blog da própria Roberta:
Teresa e Roberta: duas mulheres que têm a coragem de tirar o Brasil do discurso e exibi-lo diante dos olhos de quem queira ver. E a verdade com que fazem isso arranca lágrimas e levanta plateias de suas cadeiras. Porque, talvez, não haja nada que nos toque tão profundamente a alma como a arte da nossa terra, ainda que seja ela a mais inglória das pátrias. Pra mim, que creio que um artista só é verdadeiramente grande quando expressa as suas origens, fez todo sentido.
Acho que ainda sensibilizada por tudo isso, no voo de volta ao Rio, tomada pelo enorme cansaço que quase me tirava a capacidade de pensar qualquer coisa que exigisse um pouquinho mais de profundidade, eis que, como numa epifania, brotou-me a pergunta: e se se fizesse um Mesa Tendências só de Brasil?
Nada de nomes internacionais como âncoras. Somente chefs e cozinheiros de todos os rincões do nosso país. Um palco unindo gente de todas as regiões pra pensar o futuro gastronomia brasileira... Estudantes, profissionais, jornalistas, enchendo um auditório pra ouvir o que o Brasil tem a dizer de si mesmo.
Seria sonhar com o improvável?
Não sei... Quem sabe?" - por Constance Escobar
E mais Mesa Tendências neste blog:
O Jantar da Terra, no Dalva e Dito, e o manifesto Carta de São Paulo
Mesa Tendências 2010: Programação completa
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Interessante... nasce aí mais uma tendência: se a verdadeira experiência gastronômica é aquela que nos deixa doces e saborosas memórias, nada mais atual do que utilizar as memórias da infância ou da terrinha, certo? Demorou...
ReplyDeleteGostei muito da ideia de discutir-se a gastronomia do Brasil apenas, mas pq focar só no futuro (...futuro da gastronomia) se ainda precisamos entender e valorizar mais o nosso passado e o presente?