27.5.11

A última ceia no El Bulli: coluna de ontem no Comida, da Folha


Isso aqui está igual novela da Globo: mó suspense! Depois do post de ontem, que narrava a linda viagem até o restaurante, hoje reproduzo aqui o texto que escrevi para o Comida, o caderno de gastronomia da Folha.


Só amanhã vou mostrar os pratos todos que experimentei no El Bulli... aguardem as cenas dos próximos capítulos! :)





A última ceia no El Bulli

    Escrevo estas linhas de Roses, na Catalunha, ainda mexida e desnorteada, na manhã seguinte ao meu derradeiro jantar no mítico El Bulli do chef Ferran Adrià. Que poderia lhes contar de novo? Pululam pela internet descrições e fotos mil das bizarrices que compõem o menu degustação. E já se escreveu à exaustão sobre o fim próximo do restaurante que revolucionou o mundo (fechará no 31 de julho por 3 anos para reforma milionária até ser reaberto como think tank, ou laboratório de ideias).

Palitos de cana de açúcar embebidos de caipirinha e de mojito
(os que têm folhinha de hortelã): "chupe!"


     Prefiro poupá-los de longo discurso crítico dos 47 bocados que provei (papel de flores! Caipirinha sólida!). Isso  só sublinharia a injustiça que faz dos que lá foram uns felizardos, e dos que sempre sonharam em ir mas não conseguiram reserva, uns azarados condenados a morrerem na vontade.

     É o fim de uma era, e quem não viu, não verá. E agora? Haverá sucessor à altura? Mesmo sem ter comido no Noma, que tomou do El Bulli o posto de número 1 no ranking dos 50 melhores do mundo, atrevo-me a dizer que não existe outro restaurante que tenha o mesmo poder de mexer no fundo da alma, de abalar emocionalmente quem se entrega a seus esquisitos sabores.

     Muito da magia do El Bulli está fora do prato. O percurso de táxi por estradinha deserta e periculosamente sinuosa desnuda paisagens de beleza comovente, íngremes montes semi-áridos indo de encontro ao mar imenso.




Naquele Parque Nacional de muitas baías o ar cheira a pinho e o grito dos pássaros mistura-se ao bater das ondas no cascalho.

Eis que surge naquele isolamento selvagem a casinha velha de ar familiar, com sua cristaleira repleta de buldogues (bullis) de porcelana....



    Tem um quê de surreal a caretice do espaço, contrastando estranhamente com o avant-gardismo dos ares, papéis comestíveis e encapsulamentos.



   A cada instante da noite encantada eu me via rindo, ou refletindo, ou buscando domar a forte emoção que me invadia o peito. Não chamaria aquilo de jantar, mas sim de uma janela que se abriu revelando o íntimo de um gênio. Epifania que durou curtas horas e me fez sentir, mais do que nunca, viva e plena.




1 comment:

  1. Ahh Meu Deus, quero ver os pratos logo!! haha

    Tati Campêlo
    www.gastronomiaefotografia.com.br

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