chef Vitor Sobral, estrela-mór da cozinha portuguesa |
Recebi agora cedo um email que me chamou a atenção. Acontece, no fim deste mês em Lisboa, um fórum gastronômico organizado pela ACPP - Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal. E entre um evento e outro, marcaram para o meio dia do 29 de março um "debate" descrito assim:
"A crítica Gastronómica em Portugal” - Manuel Gonçalves da Silva, José
Avillez e Vitor Sobral (Aprox. 30 min)"
Avillez e Vitor Sobral (Aprox. 30 min)"
Trinta minutos?! Ora.... isso não vai dar nem para o cheiro! Se gastarem dez minutos apresentando os chefs - que são as duas maiores estrelas de Portugal - sobrarão vinte para tratar de tema dos mais espinhosos. Primeiro, duvido que Avillez ou Sobral tenham vontade de dizer o que realmente pensam sobre nós críticos. Segundo, se quisessem dizê-lo, certamente precisariam de mais do que alguns minutos!
Quem conduzirá o bate-papo será o crítico gastronômico Manuel Gonçalves da Silva. Ele começou no jornal Diário Popular no ano em que eu nasci. Ou seja: experiência não lhe falta. Entre muitos outros trabalhos, escreveu sobre gastronomia para Casa Claudia, Exame e Visão, além do guia de restaurantes Repsol.
Chef José Avillez |
Sem querer desmerecer o nobre objetivo de levantar a questão sempre tão controvertida do papel e da valia do crítico, atrevo-me a dizer que muito do que pensa o Manuel já foi dito no ótimo fórum online português Nova Crítica-Vinho, onde ele escreveu o seguinte:
"Hoje escreve-se muito, em todo o lado, mas quase sempre mal, porque em mau português e de um modo geral sem uma abordagem séria das questões. O restaurante é apresentado como um lugar mais ou menos da moda, onde o desgin corresponde ao perfil da clientela e a comida também, seja isso o que for. Há outra escrita, feita por bons profissionais do jornalismo e da gastronomia, mesmo sendo embora autodidactas nesta matéria – José Quitério, David Lopes Ramos, Duarte Calvão e pouco mais – que assinam textos substanciais. Posto isto, direi: ainda bem que há tudo isso. O leitor dispõe agora de informação, cuja qualidade lhe compete avaliar. A grande diferença em relação ao passado recente é a informação disponível, parte da qual irrelevante, é certo, mas alguma com categoria. As pessoas aprenderão, com o tempo a escolher o trigo do joio.
Fragilidades, no jornalismo gastronómico e na crítica gastronómica, há muitas. Estes géneros do jornalismo são considerados menores. Raramente têm espaço próprio a que seja dado o devido relevo e quase nunca são exercidos em exclusividade. Por outro lado, da parte de quem de quem escreve nota-se a falta de contacto estreito com a realidade – o mundo da cozinha e da restauração –, a superficialidade da análise (pelo motivos anteriores, ou seja, as limitações do espaço, conjugadas com o insuficiente conhecimento da realidade) e alguma imprecisão ao nível dos conceitos em textos que, ora são meramente descritivos, ora críticos.
Obviamente, o jornalismo gastronómico não tem a importância que devia ter! Nem de perto, nem de longe. E não admira. Quantos decisores ou responsáveis dos Órgãos de Comunicação Social sabem comer? Repare-se neles quando vão aos restaurantes: onde é que vão, como é que estão e o que é que comem? Reflexos do tal problemazito cultural…"
Eu discordo de algumas coisas ditas pelo Manuel, a começar pela afirmação de que o jornalismo gastronômico é considerado menor. Era, Manuel, era.... Hoje, já não - pelo contrário, os críticos ganharam uma força tremenda com a disseminação da internet.
Para não me alongar muito, deixo um link de um texto meu que explica melhor o que quero dizer com isso, publicado no portal Vida Boa.
Aqui neste link, o site oficial da ACPP com maiores detalhes sobre o Fórum.
A ficha de inscrição pode ser pedida por email: acpp@acpp.pt (ao cuidado de Marina Oliveira).
Com todo o respeito, acho que o Manuel Gonçalves da Silva se engana em alguns aspectos. Ele entenderá por boa escrita os textos das pessoas que definiram o género em Portugal, mas pessoalmente acho alguns desses textos (e estilos, porque é também disso que se trata) ultrapassados. Eu não quero saber dos sinónimos que o crítico encontra para uma determinada ave nem da história toda da personalidade que deu origem à rua onde se situa o restaurante, como li recentemente. O que eu quero saber é no que esse restaurante é bom e porquê, visto que parto do princípio que o crítico é uma pessoa entendida e com experiência nesses assuntos. O que eu não quero, de certeza, é perceber que ele já leu toda a obra de Camilo e Eça e quer que as pessoas mergulhem nessa linguagem do sec. XIX. Para mim, ninguém escreve sobre comida por cá como o Miguel Esteves Cardoso
ReplyDeleteOlá Hugo, nunca li as críticas do Miguel Esteves cardoso mas posso dizer que concordo com vc completamente: acho tediosos e cansativos os textos que contam longas histórias de chefs, lugares, etc. Quem pega uma revista para ler uma crítica quer, acima de tudo, escolher um bom lugar para jantar. E quer descobrir, já na segunda ou terceira linha, se o lugar em questão lhe agradaria. Penso sempre nisso - na UTILIDADE - ao escrever minhas resenhas de restaurantes.
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