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21.6.12

Restaurantes de São Paulo: os melhores desta temporada

Steak tartare do Ici Bistrô: dos melhores pratos da temporada


São Paulo. Vim para passar 40 dias, fiquei praticamente dois meses. Meses de intensa comilança e bebelança, a ponto de sentir o corpo protestar. A essa altura eu sonho com dias de arroz, feijão, bife e saladinha. Quero distância de menus-degustação!

Meu medo, ao dizer isso, é que soe como coisa de menina mimada, mal-acostumada.

E já vou me explicando, antes mesmo que venham as críticas: tudo, até mesmo o melhor, cansa quando em doses exageradas.

E que exagero foi esse? Bom..... a lista de restaurantes visitados é looooonga: Epice, Fasano, D.O.M., Clos de Tapas, Rubaiyat, Venga!, Astor, Pirajá, Tre Bichieri, Dalva e Dito, Ici Bistrô, Primo Basilico, Maremonti, Emiliano, Shin Zushi, Kosushi, Botagallo, Aze Sushi, Nagayama, Izakaya Issa, Casa da Li, Lá da Venda, Lana, Mocotó, Momentto e mais uns tantos que já esqueci.

Arroz negro tostado com legumes e leite de castanha do Pará, do D.O.M.

O que ficou na memória? Primeiro, o almoço de cinco horas no D.O.M.: comida perfeita, vinhos perfeitos, companhia perfeita. Sei que tem gente que vai lá depois diz que não comeu muito bem, leitores e amigos me contam. Mas eu tenho sorte: só me dei bem a cada vez que voltei ao D.O.M. e, desta vez, vi um restaurante que está nitidamente vivendo seu melhor momento. Absolutamente impecável de cabo a rabo, sendo que o serviço merece aplausos especiais, fiquei boba com a performance da sommelière Gabriela Monteleone, para mim a melhor da cidade, hoje.

Dona Margarida Haraguchi, do Izakaya Issa

Além daquela tarde, marcaram-me os dois jantares no Izakaya Issa, lugarzinho tão especial que dá dó de recomendá-lo a muita gente. Medo de estragar aquele clima "lá em casa" que fisga os habitués. Dona Margarida, a carismática dona do Issa, é anfitriã de primeiríssima e faz o que muitos restaurateurs têm preguiça de fazer: trabalha muito e sempre. É o que faz a diferença.... Em uma das noites, fui lá com a equipe de filmagem do Anthony Bourdain. Detalhes neste link.

niguiri de atum do Shin Zushi


Teve também uma noite de sushis inesquecíveis no Shin Zushi. Comi o melhor atum dos últimos anos (um bachi dos mais gordos) e saí tão feliz que voltei dez dias mais tarde, com outra turma - apesar de ainda achar os preços ali demasiadamente ardidos. (Recomendam que leiam meu post completo, neste link).

Sashimi de atum bluefin ridiculamente caro, do Nagayama da rua Consolação


No Nagayama só fui por hábito e preguiça. E porque queria provar, de curiosidade, o tal atum bluefin gigantesco de que tanto falou-se na imprensa: grande bobagem, dinheiro jogado fora! Saí me sentindo assaltada, como sempre.

Raviolini com recheio de ovo de codorna de gema mole e ricota de búfala
do Tre Bicchieri: menos molho iria bem...


No Tre Bicchieri eu almocei duas vezes, pensando com os meus botões que aquela comida - gostosinha, não nego - jamais pareceria italiana para um italiano. Molhos demais, precisão de menos. Quem a descreve bem é o mr. G: "italianada", não italiana. Como nossos sushis, nossos risotos e pastas já falam português há muito tempo, carregam pouco do DNA original. Seria tão bom que alguém fizesse la vera cucina italiana em São Paulo, não? Mas duvido que seja possível.

As comidinhas que deixarão saudades:

O "brasileirinho" do Bar do Luiz Fernandes: recheio de couve, linguiça e feijão preto
  • O bife de tira do Rubaiyat da Faria Lima. Bom demais!
  • O arroz com garoupa do D.O.M., em que o colágeno do peixe envolvia toda a boca
  • A mocofava do Mocotó, já famosa e déja vu mas ainda das melhores coisas que se pode comer em São Paulo (aqui, meu post sentimental que explica porque adoro aquele lugar)
  • A coxinha do bar Veloso - minhanossasenhora! (aliás, tudo o que comi lá estava espetacular)
  • O bolinho com recheio de feijão e couve do Bar do Luiz Fernandes em Santana, dica do chef Rodrigo Oliveira (barzinho delicioso, por sinal)
  • O sanduíche de filé com queijo Palmira no pão francês do Astor (o steak tartare também estava pra lá de bom)
  • A feijuca do Pirajá
  • O bolo de chocolate em forma de besouro do Lá da Venda, melhor doce da temporada
  • O camarão com chuchu lá de casa. ;)
  • O arroz bomba com verduras à espanhola do A Peixaria, novo e simplezinho restaurante (leiam mais sobre essa ótima novidade neste post)

Como podem ver, não citei muitos pratos que provei em lugares chiques/caros. Tantos deles gostosos, mas poucos realmente extraordinários, como diria o saudoso Saul Galvão. Desta vez, a gloriosa "baixa gastronomia" levou.

Arroz de garoupa do D.O.M.: sem firulas nem espumas,  e delicioso


13.10.11

Clos de Tapas, Eñe, Venga, Tasca da Esquina, Taberna 474: paixonite ibérica em São Paulo

Croqueta de paella do Venga    Foto: divulgação


Coluna no COMIDA da Folha desta semana...



Paixonite ibérica



Surgem não só novos 'portugas' como espanhóis transados e outros que misturam as duas vertentes

A UMA "estrangeira" como eu, o Rio parece pitorescamente português.
Lá sempre abundaram os adegões e quetais, servindo bacalhau em bolinhos ou nas receitas clássicas. No Leblon nasceu o fenômeno Antiquarius. Gloriosa história de sucesso de imigrantes lusos, hoje apenas um vaga-lume de fôlego evanescente, cuja filial paulistana um tanto apagada não faz jus à matriz, também já na curva descrescente.

Pois chegou a São Paulo, finalmente, o "portufilismo" -só que em versão muito atualizada. Iria além: vivemos uma paixonite ibérica.

Surgem não só novos "portugas" como espanhóis transados e outros que misturam as duas vertentes ao traduzi-las para o gosto local -quase todos casuais (aqui, como no mundo todo, os menus rígidos e o salão formal vão caindo de moda).

Muito já se falou da chegada do Vítor Sobral -famoso na terrinha- e de sua falsa tasca nos Jardins, a Tasca da Esquina: bem simpática e boa, porém bem carinha também, ao contrário das autênticas.

Embora ainda entorpecido pela aura dourada da calorosa acolhida, o chef "tuga" logo verá que a concorrência não está fácil: as boas tascas multiplicam-se. Destacam-se, no mar de opções, a pioneira Adega Santiago, de Ipe Moraes, e sua nova Taberna 474, com pegada ainda mais portuguesa, e a Tasca do Zé e da Maria, em Pinheiros.

Se a cozinha "tuga" revisitada avança a passo rápido por aqui, diria o mesmo da espanhola. Por décadas, a Espanha em São Paulo resumia-se à caretice do Don Curro.

Hoje a cena é outra. Temos desde os modernos Clos de Tapas e Eñe até vários bares de tapas ou pintxos, como o Maripili, em Santo Amaro, e o Donostia, em Pinheiros. Abrirá em breve na Oscar Freire o Alma María, de dono e chef espanhóis.

E teremos, logo mais, filial paulistana do Venga!, botequinho de tapas no Leblon que tomou o Rio de assalto, lotado desde o primeiro dia, já com outro endereço em Ipanema.

Curioso: tardiamente, caímos de amores pelas comidinhas das terras onde tantos de nós temos raízes.

ALEXANDRA FORBES, jornalista gastronômica e foodtrotter, conta de suas andanças e comilanças também no Twitter (@aleforbes)

28.1.11

Maní, Oro, Dui, Eñe, Clos de Tapas, Venga!... a Espanha ditando moda no Brasil


Coluna publicada originalmente no portal Vida Boa de Yara Baumgart.

Durante anos fui jurada do guia anual de restaurantes da Veja São Paulo e nem piscava na hora de decidir meu voto de melhor espanhol. Dava sempre Don Curro, e de lavada. Em terra de cego....
Mas a lusitana roda. Em algum momento entre a coroação do El Bulli de Ferran Adrià como melhor restaurante do mundo e a proliferação dos restaurantes vanguardistas na Espanha, aquela nova gastronomia alastrou-se como queimada. Até que, de um ano para cá, a invasão destas paragens ganhou força total. A cada mês, recebo um email anunciando a inauguração de algum novo endereço de sotaque ibérico.

Os próprios espanhóis deram a largada no processo, de olho na riqueza crescente e na gastança desenfreada de nossas elites. Em São Paulo, chegaram com tudo. Sergi Arola, controvertido ex-pupilo de Adrià, instalou-se na cobertura do Tivoli, ex-Sheraton Mofarrej, servindo haute tapas. Os gêmeos Sergio e Javier Torres abriram o moderninho Eñe. Daniel Redondo casou-se com a guapa Helena Rizzo (trabalharam juntos em Girona, ao norte de Barcelona) e – embora não façam uma cozinha propriamente espanhola – imprimiram a marca da cozinha vanguardista catalã nos menus que criam em conjunto no Maní.


Água de tomate com burrata esferificada, no Maní: técnicas espanholas


Neste início de ano, ganharam concorrente de peso – o ambicioso Clos de Tapas – sob o comando de uma brasileira e um espanhol de currículos estelares (leia post completo, com fotos, aqui).

Restaurateurs brasileiros não se fizeram de rogados. Ipe Moraes arrebenta de vender comidinhas espanholadas e chopes em sua perenemente lotada Adega Santiago. Bel Coelho – outra com passagem por Girona – depois de alguns passos em falso - acertou a mão com o Dui e seu anexo gastronômico Clandestino, onde se sente forte influência espanhola, das técnicas aprendidas na Catalunha à sangria do bar de tapas à entrada.

E nesta terra da garoa onde durante tantos anos penava-se para encontrar um mísero pratinho de jamón, hoje pode-se fartar de comer croquetas, tortillas e patatas bravas em lugares como Don Mariano, La Tasca, La Tapa, Maripili, Miró e NBox. 

Apesar da acelerada proliferação dos bares tapas em São Paulo, curiosamente o melhor desta nova safra não fica aqui, mas sim no Rio. O Venga!, de tão bom e tão popular, acaba de dar cria. A matriz, em um apertadinho espaço no corredor gastronômico da Dias Ferreira, deu origem à vistosa filial em Ipanema, inaugurada há pouco.



E por falar em Rio, os irmãos Torres – que vivem na ponte-aérea Barcelona-Brasil – abriram por lá um segundo Eñe, point atual dos que adoram aquele frenético ver-e-ser-visto. Concorre diretamente com outro novo restô nitidamente alinhado com as cocções a vácuo, as espumas e os falsos caviares de caldos encapsulados importados da Espanha: o Oro, do mediático chef Felipe Bronze.

Tanto no high (modernidades e pirotecnias à la Ferran Adrià) quanto no low (pães, azeites, tomates, jamones, ovos, pimentões e o resto do universo das tapas) está claro que a Espanha está a dar as cartas por aqui. Natural, considerando-se que o país comanda, hoje, a cena gastronômica mundial. A única surpresa é a intensidade da sede que temos em recuperar o atraso, como se quiséssemos compensar, em uma orgia de croquetas e patatas, aqueles anos todos que passamos com olhos só para França e Itália.
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