Era uma vez o M. Wells, um restaurante–casual-porém-gastronomicamente-ambiciosíssimo.
Hoje é sua última noite de funcionamento.
R.I.P.
Um lugar com cara de diner americano mas alma de bistrô québecois, que durou pouco mas teve vida intensa e glórias mil.
E porque diabos esse tal de M. Wells deu tanto o que falar, enquanto existiu?
A resposta, curiosamente, está no link do que era servido ali e um certo chef de Montréal: o cultuado Martin Picard, dono do igualmente cultuado Au Pied de Cochon.
Se o M.Wells lembrava um pouco o Au Pied de Cochon, não era coincidência. O chef e dono, Hugue Dufour, foi sous-chef do APDC vários anos. Mudou-se de Montreal para Nova York e, sem grana para abrir algo em Manhattan, alugou um velho diner em Long Island City.
O M.Wells fez fama servindo pratos ogros, enormes, rústicos, claramente inspirados na cozinha québecoise-renovada de Martin Picard.
Chef Martin Picard (à direita) com o restaurateur Carlos Ferreira, em Montreal |
Picard tornou-se alguns anos atrás, sem querer, uma espécie de guru de chefs como Anthony Bourdain e David Chang. Ele faz uma cozinha nose-to-tail (usa o animal inteiro, da fuça ao rabo), bem carnívora, bem farta, com ênfase em foie gras, porco e sua versão de velhos clássicos do Québec.
Dufour tornou-se uma espécie de representante de Picard em solo americano.
The rest, como diriam os americanos, is history.
Alguém o descobriu perdido naquela lonjura de Long Island City, contou aos amigos, e assim a boa nova foi se espalhando e pipocando na mídia até que o M.Wells virou, simplesmente, o restaurante mais falado da cidade. Choveram elogios à cozinha rústica porém ao mesmo tempo refinada de Dufour (mesmo se apresentados displiscentemente, os ingredientes têm altíssimo nível de qualidade, e aparecem em combinações inspiradas e bem-executadas – um falso casual, digamos).
Uma crítica especialmente favorável – e com divertido slide show – foi publicada no The New York Times em abril.
Bom, se a história do lugar já era interessante assim, ficou ainda mais quando foi anunciado que Hugue e sua mulher não conseguiriam renovar o aluguel do imóvel e teriam que fechar o M.Wells no fim de agosto.
Recebi um email deles que dizia assim:
“Os detalhes da negociação são de virar o estômago. Depois de meses tentanto negociar, desistimos e aceitamos o fato de que não era para continuarmos inquilinos daqui. A boa notícia é que reabriremos em algum lugar aqui perto, em breve. Enquanto isso, vamos encerrar em grande estilo, com uma série de mega jantares. (….)”
Como prévia para o último fim de semana, apesar do furacão Irene que chegava, recebi outro email:
“Estamos cozinhando há dias para esse épico fim e estamos super pilhados para fazer os últimos FareWells Dinners. A não ser que um de nós – ou o restaurante em si – seja levado para baixo do East River, estaremos abertos este fim de semana. Transporte público talvez inexista então encorajamos que você pegue carona. Seu espírito de aventura será bem recompensado.”
Mas esperem, tem mais! O jeito-descontraído-de-ser de Dufour e sua equipe acabou irritando o crítico de restaurantes da GQ, Alan Richman. A história é longa – MUITO longa. E envolve até uma garçonete acusando ter levado dele um tapa na bunda!!!
Inacreditável. Ele conta nesta matéria tintim-por-tintim nesse escandaloso texto (em que ele poderia ter focado um pouco menos nele e mais nas questões maiores…).
O título? “Diner para trouxas”. Imperdível para quem lê bem em inglês.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…
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