24.7.11

A comida de rua de Nova Déli: coluna desta semana na Folha


Pelas ruas de Déli com o fotógrafo Rodrigo Zorzi, do Glamurama


Quem segue este blog está cansado de saber que voltei de Déli doente. Já contei e mostrei bastante da viagem, mas faltou falar da comida. Na coluna desta quinta no caderno Comida da Folha, expliquei o porquê de eu ter tão pouco a contar nesse departamento...


 Quem tem medo do curry mau?

   “Cuidado com a Déli belly”, avisou meu amigo Tony, referindo-se à dor de barriga e diarreia que vitimam tantos turistas, quando soube que eu estava de partida semana passada para a Índia. Mais alertas aterrorizantes juntaram-se ao dele – “Nem encoste na água da torneira! Você não vai escapar de adoecer com os curries! “ -- de modo que já pisei em Nova Déli tomada por um medo para mim inédito. Medo de comer.

   Ruim, isso. Afinal, gosto de conhecer o mundo justamente por seus  restaurantes, feiras e barraquinhas de rua. Pequena, meu pai repetia a cada almoço em restaurante: “Em Roma, coma como os romanos”. Ou seja: se quiser comer bem, prove sempre alguma especialidade daquele lugar.

   Meu irmão, ainda meninote, teimava. Se íamos, por exemplo, ao grande (e já extinto) restaurante  C’a’doro, de cozinha lombarda, ele nem hesitava: “Estrogonofe, por favor”. Papai logo avisava ao garçom que esquecesse aquilo. Pedia algo como língua e cotechino do bollito misto (carnes e embutidos cozidos) seguidos de codorna para mim, agnolotti triplo burro para o Gui.

   Sabores adultos demais para criancinhas, quiçá, mas valiosa lição que me serve até hoje. Em minhas andanças pelo mundo procuro sempre saber, ao chegar, o que se faz bem ali. “Qual é o prato que mais sai?”, pergunto – e em seguida, peço o mesmo, seja numa barraca de tacos de Oaxaca ou no italiano mais chique de Manhattan. Dificilmente me dou mal. E de lambuja ainda aprendo um pouco sobre costumes e gostos locais. Mostra-me o que comes e te direi quem és.


   Pois Nova Déli mostrou-se a mim. Vi gente de cócoras tostando pães-panqueca em chapas e brasas de carvão.


Passei por botecos onde, sobre fogões, ferviam panelas contendo cozidos misteriosos.
Indianos bangelas empurravam carrinhos com milho assado da brasa ou samosas. Mas oprimiam-me o ar pesado e quente, as nuvens de moscas, os cheiros mesclados de esgotos, corpos sem banho e lixo. E agulhavam-me as tenebrosas profecias que ouvira de tanta gente, como um alarme constante. Envergonhada, confesso: não tive coragem de provar comida de rua nenhuma. Rendi-me ao bufê qualquer nota do cinco estrelas...



1 comment:

  1. Quem vai para a Índia e fica em hotel 5 estrelas não experimenta a Índia.

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